Crises são oportunidades. Revigoram. Abrem os olhos. Mostram aquilo que ninguém queria ver. Escrevo antes da decisão desta noite da Ponte Preta contra o Coritiba. Uma vitória e novos dias de treinamento para a batalha diante do Avaí. Caso os três pontos não apareçam, independente da frustração, Gilson Kleina retomou seu crédito com a torcida. Os jogadores reconstruíram sua imagem. E um novo caminho surgiu. Sem Sérgio Carnielli como tutor ou Messias. Esta é a principal novidade.
Desde a reunião do Conselho Deliberativo no dia 24 de setembro, algo já conhecido nos bastidores ficou escancarado: Carnielli está afastado da atual diretoria. Parece pouco, mas significa muito.
Em campanhas anteriores, o presidente de honra dava um jeito de aparecer. Seja na concessão de um prêmio extra, na quitação de salários atrasados ou em uma palestra surpresa no vestiário.
Quer constatar a diferença? Relembre o acesso da Macaca em 2011. Sérgio Carnielli, emocionado e eufórico, encontrava-se ao lado do então gestor de futebol, Márcio Della Volpe e do mesmo Gilson Kleina de hoje.
Dessa vez, nada. Nem um afago. Nenhuma aparição. Deixo claro: se José Armando Abdalla Junior tem um mérito foi a de consertar o erro que cometeu ao demitir Brigatti, pois trouxe um outro treinador com a cara e o jeito da Ponte Preta. Só que ninguém veja gargantear seu protagonismo nesta arrancada porque não teve. Não atrapalhou. O ressurgimento do sonho deve-se a Gilson Kleina, comissão técnica e jogadores. Só.
Qual a lição? Que a dependência em torno de Carnielli é passado. A teoria de quem o sem a influência e o poder de Carnielli não há como a Macaca evoluir é algo fantasioso e talvez sem nexo.
A missão de jornalistas, torcedores e integrantes do mundo do futebol é encarar Carnielli como ele é: alguém fundamental para tirar a Ponte Preta do buraco no final do século passado, uma figura que investiu valores no clube, fracassou mas promoveu um debate sem fim com opositores nos bastidores. Seu tempo passou. Deveria abrir espaço e aplicar a frase do romancista francês Victor Hugo: “O tempo não só cura, mas também reconcilia”. Ainda dá tempo. Basta querer.
(análise feita por Elias Aredes Junior)