Quando foi contratado para dirigir o Guarani na Série B nacional de 2009, o técnico Oswaldo Alvarez sabia do desafio de montar um time competitivo e recursos escassos. Entre as contratações efetuadas a mais polêmica foi a do zagueiro Márcio Alemão. Com histórico de expulsões e atitudes controversas, o jogador foi recebido com desconfiança. Após a Série B e o vice-campeonato o saldo: 19 jogos disputados, sete amarelos e um vermelho. Um saldo além da expectativa.
Três anos depois, o retorno acontece e Vadão chancela nova contratação cheia de interrogação: Domingos, conhecido por seu passado de jogadas viris e provocações com as camisas de Santos, Grêmio, Portuguesa e São Caetano. Submeteu-se a uma dieta rigorosa, entrou em forma e fez um Paulistão impecável. Joga atualmente no Al-Kharitiyath do Qatar e está resolvido financeiramente. Eis que a aparição relâmpago de Vadão em 2017 produz novo alvo de regeneração: Diego Jussani.
Nos 12 jogos iniciais da Série A-2, o beque foi sinônimo de instabilidade e lentidão. Não transmitia confiança ao torcedor e muitos consideravam o jogador, ao lado de Gilton, as principais fraquezas bugrinas. A nova comissão técnica nadou contra a corrente. Deu moral e concedeu incentivo ao jogador. Manteve sua escalação nos jogos subsequentes. Resultado: atuações seguras contra Água Santa e Taubaté.
Nos três casos descritos, o que chama atenção é a capacidade do treinador bugrino de utilizar o discurso e técnicas de psicologia para encontrar dentro do jogador um potencial que às vezes nem existe. Enumerar argumentos, encaminhar apoio, declarar frases positivas e esquecer o passado negativo tem um efeito mais reabilitador do que um treinamento tático, um coletivo de uma hora de duração ou uma atividade de bola parada.
Enquanto os técnicos da nova geração apostam (com razão!) no estudo, reciclagem e busca de novas estratégias, o técnico parece caminhar fora da estrada. Abraça a tese de que tratar um jogador como ser humano e compreender de que ele é como todos nós portador de dificuldades, frustrações, êxitos e vitória é a chave do sucesso. Ou pelo menos na construção de um clima harmonioso e coeso. Há garantia de sucesso? Nenhuma. Talvez o encanto acabe contra Sertãozinho e Portuguesa e a classificação fique distante. Algo, entretanto, é impossível esconder: com pouco treino e muito papo o Guarani mudou sua postura.
No fundo, no fundo, talvez este fosse a tática que faltasse: palavras para curar e produzir esperança.
(análise feita por Elias Aredes Junior)