Os times brasileiros de futebol adquiriram a tática do “caiu o técnico”. A troca é vista como a forma mais adequada para buscar o melhor desempenho. Será? E o Guarani vai colher os frutos deste conceito? Convido você a acompanhar-me neste processo que, por incrível que pareça, o Alviverde campineiro parece perdido e sem rumo.
Todos falam que um técnico de futebol competente deve gerenciar o elenco. O trabalho pressupõe planejamento em conjunto com os profissionais. A responsabilidade vai além da definição dos jogadores e da montagem de esquema tático. O treinador deve conhecer o projeto do clube, estar alinhado com as perspectivas de curto e longo prazo, avaliar atletas, buscar novos perfis, analisar os adversários e repassar o planejamento tático aos membros da comissão técnica.
A urgência de uma equipe compactuada questiona a comum “derrubada” dos técnicos. Um trabalho interdisciplinar, com participação dos profissionais envolvidos depende de um grupo alinhado e bem gerenciado.
Gustavo D’Ávila, pertencente ao site Universidade do Futebol, afirma que os clubes devem encontrar um treinador que se encaixe na filosofia e atenda ás exigências do cargo. Convenhamos: tais condições demoram a ser consolidadas e demandam tempo e gerenciamento de pessoas.
Pergunto: Como demitir o técnico pode ser a melhor escolha?
A solução é defendida pela incorreta percepção de que trocar o treinador resolve os problemas de desempenho. A escolha por profissionais que, supostamente, tenham mais experiência, é superficial e pode, inclusive, agravar as falhas.
Veja o caso do Guarani. Campeão do “Brasileirão” de 78 e que, desde 2004, apresenta baixo rendimento, oscilações no desempenho em campo e convive com seguidos rebaixamentos. Coincidência ou não, desde os anos 2000, o elenco bugrino foi comandado por 51 profissionais.
Estes 51 técnicos significam 51 mudanças no gerenciamento de um elenco completo em 17 anos. São 51 pessoas diferentes, com visões e perfis completamente diferentes. Profissionais obrigados a adaptar-se às exigências do time em questão de semanas e pressionados pela necessidade de vitória na estreia e nas partidas consecutivas.
Para uma coordenação técnica ser bem-sucedida, é necessário um treinador alinhado aos objetivos de curto e longo prazo, um profissional bem relacionado com toda a comissão técnica e com a credibilidade junto aos atletas.
Como é possível cumprir tais condições em 24 partidas? Foi o caso de Marcelo Chamusca e Pintado, os técnicos que comandaram o guarani por mais tempo nos últimos anos. E para Vagner Benazzi, que coordenou o time em três jogos e depois foi demitido? Houve uma integração?
A situação continua frequente. O técnico Oswaldo Alvarez, apresentado ao time em 1995, já comandou o Guarani por cinco vezes e foi substituído novamente. No lugar, designaram Marcelo Cabo. Profissional com histórico pouco favorável, polêmicas e derrotas marcantes, o novo treinador entra no time desafiado a garantir o acesso à série A do campeonato Brasileiro.
A questão não é deixar de cobrar do técnico um bom desempenho do elenco nos campeonatos e sim gerenciar a equipe na parte tática e garantir tempo e espaço para que o profissional possa se adequar à realidade. Com 51 treinadores, em sistema de rodízio por 17 anos, não há tempo suficiente para tal.
Nenhum outro cargo chega a ser tão rotativo. Você deixaria sua loja de roupas ser atendida por vendedoras diferentes a cada semana, que não se adaptaram aos preços, tamanhos e, muito menos, às opções? Como um atendente de telemarketing responde os clientes sem um treinamento completo das funções e missões da empresa? Seus filhos confiariam em uma unidade de ensino que troca o professor de matemática a cada mês?
O gerenciamento de pessoas talvez seja a solução de diversos problemas e a prevenção dos mesmos. O futebol, mais do que qualquer outro esporte, reúne milhares de torcedores nos estádios; pessoas que investem nos clubes, animam os jogadores e defendem um escudo.
A falta de gerenciamento não só prejudica o time, como também afeta a carreira dos atletas, que ficam desmotivados, e afastam os torcedores, um dos principais motivos para existir toda essa organização esportiva (milionária e quadrada).
( artigo de autoria de Giulia Bucheroni- Especial para o Só Dérbi)