Análise: como a intolerância, violência e desejo de censura impedem o desenvolvimento do derbi campineiro

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Este site nasceu com a meta de cobrir o principal clássico do interior do estado de São Paulo e seus protagonistas. Não apenas no gramado. Futebol tem relação com sociologia, história, cultura e tem interligação com outras áreas de conhecimento humano. É um retrato do Brasil. Nesta semana de preparação para a partida, alguns internautas, podem não perceber mas adotam comportamentos violentos presentes em nosso país.

Primeiro, a tutela. O cronista esportivo não pode querer fugir do lugar comum. Não pode tentar buscar outros ângulos de análise. Tem que ficar escravo de opiniões água com açúcar. Quando digo que o Guarani luta contra o rebaixamento ou que a meta da Ponte Preta é pelo acesso, eu e outros profissionais de imprensa somos colocados na cruz. Você não pode dizer aquilo que está na sua mente e sim aquilo que é do desejo do interlocutor.

É obvio que discordar é do jogo. É saudável. Super. Democracia é feito do embate de ideias. Vários internautas afirmam que este missivista e outros não admitem discordâncias. Mentira. O que não se aceita é falta de educação. Sim, porque brasileiros confundem discordância com grosseria. Violência verbal em alto grau.

É lógico que ninguém é dono da verdade. É obvio que ninguém sabe de tudo e de todos ao mesmo tempo. Só que também é verdadeiro que o debate da opinião pública pode e deve ser conduzido em alto nível. E não depende apenas do profissional de comunicação. É tarefa de quem recebe a missão. Independente do grau de instrução e condição econômica.

O futebol é o álibi para a liberação de instintos primitivos. Ofendem, agridem, insultam e torcedores/internautas acham que tem esse direito. Não, não tem. E respostas fortes tanto da minha parte como de qualquer profissional de imprensa se constituem em reação a um comportamento violento, ameaçador e que visa intimidar.

Pior: muitos perdem a capacidade de raciocínio. Exemplo: pense naquilo que aconteceu desde janeiro deste ano com os dois clubes. A Ponte Preta errou na contratação de Mazola Junior, demorou a engrenar com Jorginho, sofreu com atrasos de salários, vive uma crise política profunda e está fora do grupo de classificação da Série B do Campeonato Brasileiro. Como ignorar que tais fatores interferem no espírito reinante para o dérbi? Pois é.

Ao invés de pensar e planejar uma maneira de ostentar uma postura cidadã para que o clube saia do quadro turbulento, boa parte dos torcedores (infelizmente) preferem perseguir, ameaçar ou constranger jornalistas de espírito críticos e sites como o Só Dérbi. Esquecem que a imprensa tem a função de analisar, informar e fiscalizar, nunca de ser parceiro ou passar pano para aquilo que está ruim. Se outros não fazem, azar o deles. A história cobrará a fatura.

O Guarani não fica atrás. Fez uma campanha sofrível no Paulistão, passou vexame na Copa do Brasil, não definiu um parceiro para a terceirização e com o rompimento com o empresário Nenê Zini restou a montagem de uma equipe limitadíssima, e que luta contra o rebaixamento na Série B. Sério que alguém acha válido esconder essas notícias? Que a censura fará o Guarani voltar ao passado de glórias? Ao invés de lidar com a realidade, a decisão é viver de ilusão.

Ninguém renega que o passado do Guarani gerou feridas. Não há uma viva alma que queira ignorar a destruição de uma agremiação fortalecida nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Só que deixar de falar, criticar e apontar caminhos é como pedir para o médico apenas examinar o paciente e jamais dar uma receita.

Infelizmente, uma parte relevante as duas torcidas caminham de mãos dadas quando falamos de alienação e enfoque infantil no futebol. Sim, futebol é paixão. Emoção. Surpresa. Mas também é diálogo, troca de ideias, maturidade e principalmente respeito, educação e gentileza com o estilo de trabalho com quem que seja.

Não adianta colocar torcida única em dérbi. Tal medida não extermina com o principal problema de quem acompanha futebol em Campinas, São Paulo e no Brasil: a violência e a vontade de censura está dentro de cada um de nós. A nossa missão é dominar estas vontades negativas e colaborar para a construção de um clássico diverso, amplo e que contemple todas as facetas do futebol. Pena que muitos não entenderam.

(Artigo de autoria de Elias Aredes Junior)