Análise Especial: Hélio dos Anjos, o símbolo da Ponte Preta no dérbi 204

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Não há como fugir: Hélio dos Anjos foi o principal personagem do dérbi 204. Escalou o time de modo coerente, soube fazer as alterações para mudar o equipe diante do principal rival e foi premiado com uma vitória emblemática. Hoje certamente, por tudo aquilo que o time exibe no gramado, Hélio dos Anjos tem o respeito do torcedor pontepretano.

A equipe tem um jeito de jogar. Uma estratégia definida. E o time apresenta diversas formas de atuar. Responsabilidade direta do treinador. Hélio dos Anjos está integrado a Ponte Preta. E a Macaca aceitou o jeito e o comportamento do seu comandante.

Hélio dos Anjos é sério. Trabalhador. Com vasto conhecimento de futebol.

Profissional experimentado.

E que já tinha feito bons trabalhos como no ano passado, em que as disputas políticas atrapalharam a sua trajetória no Náutico. Ficou com 53 pontos e nitidamente tinha potencial para chegar mais alto na competição.

Hélio dos Anjos é consistente. E mesmo assim, até hoje tem apenas duas passagens por gigantes do futebol brasileiro: Gremio e Vasco.

Sim, tem quase 300 jogos pelo Goiás e é considerados por muitos torcedores esmeraldinos um dos principais treinadores da história do clube.

O que aconteceu? Porque só agora, com o auxilio do filho, Hélio dos Anjos é digamos, “descoberto” pela mídia? Por que com conteúdo tão interessante não consegue atrair a atenção de clubes de ponta da Série A, que disputam titulos?

Veja por exemplo, Dorival Junior, que aos 60 anos retornou ao mercado pelo Ceará até chegar ao Flamengo. 

O que prejudica Hélio dos Anjos é o mesmo fenômeno que atrapalhou a trajetária de Andrade, que foi campeão com o Flamengo em 2009 e nunca mais teve uma oportunidade em clube de ponta; ou de Roger Machado, inteligente, perspicaz e sábio que, mesmo com o Grêmio no G-4 ainda precisa provar todos os dias que é merecedor de uma vaga na Série A ou na B. Sim, estou falando de racismo estrutural.

Sim, é chato e incomôdo.

Ninguém gosta de falar.

Mas é algo que explica não somente as relações de poder na sociedade brasileira como no próprio futebol. Só para relembrar, racismo estrutural é a naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial.

Essas ações reverberam nas instituições públicas e privadas.

No Estado e nas leis que alimentam a exclusão da população negra. Elas se materializam, por exemplo, na ausência de políticas públicas que possam promover melhores condições de vida a essa população. Exemplo prático: você vai em um restaurante e todos os clientes são brancos e os garçons são negros e você não acha nada demais. Este seu comportamento é fruto do racismo estrutural.

Em qualquer país com um mínimo de equilibrio e justiça social Hélio dos Anjos já teria em seu curriculos muitas passagens por gigantes do futebol brasileiro. Não precisaria a essa altura do campeonato comprovar diurtunamente a sua capacidade intelectual e sua visão de futebol.

Fato irrefutável: o futebol brasileiro não é cruel apenas com Hélio dos Anjos, mas também com Celso Roth, há vários anos longe do futebol. Seria mais ameno com vários e vários técnicos negros que contribuiram para o desenvolvimento do jogo no Brasil.

Sorte da Ponte Preta em contar com um profissional que certamente tem falhas, equiívocos, que comete erros, mas que é sério, profissional e entende o que é Ponte Preta e sua relação não só com o futebol brasileiro mas com a luta contra o racismo e a discriminação.

E uma forma efetiva de combater a discriminação é deixar o talento de qualquer negro aflorar e se desenvolver. Principalmente quando o talento vem a partir do banco de reservas. Que seja infinito enquanto dure.

(Elias Aredes Junior-com foto de Álvaro Junior-Pontepress)