Marco Antonio Eberlin tem motivos mais do que suficientes para se sentir que nem pinto no lixo. Ganhou o seu primeiro clássico com o Guarani após o seu retorno ao futebol, a promoção de ingressos populares foi um sucesso e a Macaca está em quarto lugar no returno, com 10 pontos ganhos, três atrás do Ituano que é o lider nesta fase da competição.
Em apenas alguns dias, Eberlin comprovou por A mais B as suas teses: fez a sua reação sem a necessidade de um diretor de futebol (ou executivo), sustentou a sua gestão com seus métodos e viu a sua aposta em Hélio dos Anjos gerar frutos saborosos.
Oposição? Alguns até estiveram presentes na cerimônia de aniversário do clube e pelo que soube rasgaram elogios as reformas dos alojamentos da base localizadas no Majestoso. Melhor impossivel.
E o melhor ainda: sem os inconvenientes do passado, como a de ser vigiado pelos jornalistas que cobriam o dia a dia do clube na década de 1990 e início do século 21.
Pois é.
Se ele fosse personagem de um conto de fadas, ele poderia bradar diante do espelho: “Espelho, espelho meu, existe alguém em Campinas que entenda de futebol mais do que eu?!”. O espelho ficaria mudo. Seu sucesso é total. Mas aí é que está. O triunfo de Eberlin indiretamente é um tópico de fracasso para a Ponte Preta.
Explico: é inegável que Eberlin entende de futebol e parece ter se reacostumado aos bastidores da bola. Mas quanto maior for o seu sucesso, mais a Ponte Preta ficará presa a uma maneira de ver, administrar e tocar o futebol profissional. Não existe variação de ideias, conceitos ou formula de contratações. É como você montar um time somente com armadores. Ou com volantes.
Dou um exemplo prático: a Ponte Preta decidiu levar em frente um projeto para prospectar jogadores em bairros pobres de Campinas. Boa ideia. A famosa peneira. Mas será que essa é a única estratégia eficaz? Certamente existem outras mas que não vão aparecer por um motivo: a Ponte Preta só tem uma maneira de ver futebol e sentir o futebol. É uma escolha. E deve ser respeitada. Mas que dificulta a renovação de quadros. Mesmo que o dirigente não queira que isso aconteça.
E por que isso acontece? Simples como água: a Macaca não formou dirigentes estatutários e que entendam profundamente de futebol nos últimos 20 anos. Ao cortar por bom tempo o relacionamento com as suas raízes e adotar uma visão de classe média alta (e elitista) em relação ao futebol, a consequência direta foi a ausência de gente que pudesse se contrapor aos executivos de futebol na gestão de futebol.
Ou seja, a Ponte Preta ficou refém de pensamentos que, no fundo, eram provisórios. Não era uma política de estado de futebol. Uma hora quem ditava as normas era Gustavo Bueno. Como também foi um dia Ocimar Bolicenho, Marcus Vinicius, Marcelo Barbarotti e outros menos cotados. Um fracasso, uma visita ao RH e tudo começava outra vez.
Enquanto isso, nas redes sociais, um sentimento de nostalgia era fomentado a respeito de um passado remoto.
Resultado: a oposição ganhou, Eberlin voltou a dar as cartas no futebol e a Macaca assumiu que precisava voltar ao passado para assegurar o presente e construir o futuro.
No inicio, o preço foi alto demais: o rebaixamento á Série A-2 do Campeonato Brasileiro. Hoje, a Ponte Preta vive um momento melhor? Sim. Marco Antonio Eberlin tem protagonismo no processo? Com certeza.
Mas se tanto as chapas DNA Pontepretano como MRP apresentassem no processo eleitoral mais pessoas capacitadas e dotadas de competência para tocarem o futebol certamente o pesadelo do primeiro semestre teria sido evitado. Por que existiria troca de ideias e de conceitos. Fica de lição. Inclusive para Eberlin. Afinal de contas, quem escala a humildade de camisa 10 sempre ganha o devido galardão. No futebol, não é diferente.
(Elias Aredes Junior-com foto de Diego Almeida-Pontepress)