Não existe nada pior do que fugir da realidade. Assumir a culpa por falhas, equívocos e vacilos é um calvário. Viver um conto de fadas pode ser prazeroso no momento, mas cobra faturas pesadas quando o cotidiano impõe seu veredito.
Nos últimos três anos, a diretoria da Ponte Preta vendeu ao torcedor o discurso de que a administração era uma das melhores do Brasil. Utilizava mil e um argumentos. O site oficial vangloriava-se por prêmios administrativos e superávits aprovados pelo Conselho Deliberativo.
Eis que, no apagar das luzes da atual gestão, chega a notícia de que os salários dos funcionários estavam atrasados. Triste constatação: o sonho acabou. A realidade surge como um vulcão em chamas. E traz certezas que antes estavam descobertas.
Primeiro, o descompasso do discurso com os fatos. O futebol brasileiro tem problemas administrativos e financeiros. Fato. O Botafogo, por exemplo, precisou enxugar sua folha de pagamento em virtude de sua dívida que encontra-se para alguns na casa de R$ 1 bilhão de reais. Mesmo campeão brasileiro, o Corinthians, tem seus vacilos. Sofre para colocar as contas em dia. Fruto de um estádio com custo de quase R$ 1 bilhão. Detalhe: os dirigentes dos dois clubes nunca esconderam tais dificuldades.
Em contrapartida, a Ponte Preta queria provar que era um oásis. Uma ilha de competência em um mar cravado de mediocridade. Motivos não faltavam para acreditar. Cota de televisão de quase R$ 30 milhões, patrocínio de banco estatal, programa de Sócio Torcedor e baixo endividamento. Sim, porque é impossível ignorar que a dívida de R$ 101 milhões é destinada apenas a uma pessoa.
Os argumentos da diretoria executiva pontepretana eram na direção de que existiam dificuldades com quitação de encargos trabalhistas, impostos, obrigações contratuais entre outras tarefas. Mas tudo estava em dia. Ou, na pior das hipóteses, muito perto disso.
Agora, coloque-se no lugar do torcedor da Macaca. Ele viu no gramado um time limitado, mal treinado e sem personalidade. Viu o rebaixamento de maneira humilhante. Não se conforma com as decisões tomadas por Gustavo Bueno na gerência de futebol. Não aceita o retorno à Série B e a queda de qualidade que será inevitável. Bem ou mal, ele acreditava que pelo menos as contas estavam em dia e não existia o fantasma dos salários atrasados.
Nada disso. Funcionários da Ponte Preta sofreram com o atraso de salários. Ou seja, qualquer um poderá tomar a conclusão de que o time era mal administrado dentro e fora das quatro linhas. Não poderia existir “presente” mais indigesto de Natal para o sofrido torcedor pontepretano.
(análise de Elias Aredes Junior)