No início da década de 1980, Jô Soares era um dos principais humoristas do Brasil e no seu programa na Rede Globo, ele tinha um quadro com o personagem Zé da Galera.
Com um cigarrinho fino, bigodinho preto e uma fala exaltada, Jô simulava um telefonema ao então técnico da Seleção Brasileira, Telê Santana.
Sua reivindicação era ignorar o esquema tático com armadores flutuantes (Sócrates, Zico, Falção e até Eder) e escalasse um genuína ponta para buscar a linha de fundo. O bordão resumia tudo: “Bota ponta Telê!”.
Inevitável esquecer da frase diante da comoção da torcida da Ponte Preta pela escalação do atacante Saraiva. Jovem, rápido e corajoso para tentar o drible e o chute de média e longa distância, o jogador caiu nas graças da torcida pontepretana.
Não considere Saraiva um novo extraclasse ou candidato a Seleção Brasileira. Nada disso. É um atleta ainda com várias características a serem trabalhadas e com uma estrutura física que fica difícil imaginá-lo com ritmo para suportar os 90 minutos e os trancos dos beques adversários.
Se existem tantos problemas, porque o jogador caiu nas graças da torcida? A resposta é mais simples do que parece.
Quando um time entra em campo, a vitória é fundamental, mas não basta.
Quem está arquibancada quer sonhar, vislumbrar dias melhores e ver lances que lhe incentivem a retornar. Apesar das vitórias, o que se vê na Ponte Preta? Um time pragmático, posicionado na defesa, em busca do contra-ataque e designado a trabalhar a marcação para construir suas vitórias.
Lampejos? As jogadas de Emerson Sheik e Lucca. Como o segundo encontra-se em má fase técnica, a torcida pontepretana aposta que o garoto não só pode auxiliar como proporcionar um pouco de magia no futebol pobre da Macaca.
Respeito as opções de Gilson Kleina e sua resolução de atuar como uma equipe reativa, em que a proposição de jogo não é prioritária. No entanto, ele deveria saber que toda escolha gera consequência.
Neste caso, o fruto colhido é contrariedade das arquibancadas e o clamor por um jogador que em situação normal sua titularidade seria construída aos poucos. No futebol o futuro é para ontem. Assim, não será difícil ouvir qualquer dia a frase: “Bota o Saraiva, Kleina!”.
(texto e reportagem: Elias Aredes Junior)