O empate sem gols contra o Ceará frustrou o torcedor pontepretano. A expectativa de continuidade de reação na Série B foi por água abaixo. Chamou atenção a declaração do lateral-esquerdo, zagueiro e capitão da Macaca, Artur após a partida. Segundo ele, Hélio dos Anjos tinha um estilo diferente do técnico Felipe Moreira e rapidamente foi assimilada a estratégia do novo comandante. E agora o time passa por menor sofrimento no gramado.
É um argumento utilizado rotineiramente para quem deseja defender esquemas táticos mais recatados. De qual sofrimento o jogador dissertou? Podemos dizer que sofrimento é qualquer experiência aversiva e sua emoção negativa correspondente. Tal sentimento é associado a dor e infelicidade.
Alguns tipos de sofrimentos são inevitáveis na vida: a perda de um ente querido, doenças, rompimentos de amizades. O sofrimento é a consequência gerada por fatos de alto grau destrutivo na parte da alma e na condução do nosso cotidiano.
Por outro lado, existe o sofrimento opcional. Você escolhe determinado caminho e já sabe o que vai enfrentar. O esporte é palco ideal para este modelo. Exemplo: um piloto de Fórmula 01 pode escolher ser mais agressivo na pilotagem e ser submetido em determinada corrida ao sofrimento de um acidente ou danificar ou inviabilizar o seu veículo.
Em contrapartida, um piloto mais comedido pode ser submetido ao sofrimento ao ver vitórias escaparem por ausência de ousadia. Ele termina a prova? Ótimo. Termina em segundo ou terceiro lugar? Verdade. Mas por vezes a vitória depende de um erro do oponente ou uma conjunção de fatores. Ele não se submete ao risco em nome de chegar vivo a linha de chegada.
Ganha títulos? Sim. Mas dificilmente é relembrado nos livros de história. É registrado mas a sua história é opaca e sem brilho. Não encanta. Não produz suspiros. Não vira assunto em discussão de bar após 20 ou 30 anos. É um consumo para o hoje. Um futebol fast food: pode matar a fome, mas dificilmente fornece os nutrientes necessários para um corpo saudável.
Não vou falar do passado recente. Todos sabem o que pensa a torcida da Ponte Preta em relação a Série B do ano passado e da Série A-2 deste ano. Mas posso falar do passado recente e longínquo da Macaca.
Por que muitos ainda são saudosos dos trabalhos de Guto Ferreira? Ok, na passagem inicial, até pelas limitações do elenco a equipe atuava apenas no contra-ataque? No entanto, entre 2014 e 2015, o treinador arquitetou um sistema equilibrado, com alta agressividade ofensiva e eficiência na defesa. Perdeu a Série B por um ponto e em 2015 teve bom rendimento até ser demitido quando a oscilação apareceu.
O que falar então de 2001? Equipe bem montada, criativa, dinâmica e só não disputou as finais da Copa do Brasil e do Paulistão por uma dessas fatalidades do futebol. Existiam mais recursos nestas ocasiões? Não podemos ignorar tais preceitos. Só que a ousadia, a vontade de gerar história e legado também existiam.
O que existe hoje? Da Diretoria Executiva até a Comissão Técnica existem dois desejos: imprimir uma marca própria e sobreviver na Série B. Só. E se o acesso aparecer no horizonte? Ótimo, porque será a prova de que eles todos tinham razão e de que será comprovada a inexistência de uma única maneira de ver, sentir e praticar o futebol.
Enquanto isso, o torcedor quer voltar a sonhar e construir algo para recordar no futuro o passado doce.
Como na Série A-2.
Está mais do que provado, entretanto, que isso não é a prioridade. A ordem na Ponte Preta é servir ao torcedor como um proprietário de um restaurante com um Prato Feito no cardápio e que sempre avisa ao freguês:”É o que tem para hoje. É pegar ou passar fome”. O que seria ir para a Série C. Isso ninguém quer.
(Elias Aredes Junior- com foto de Marcos Ribolli-Pontepress)