O futebol é muito fácil nos trair. Chegamos a conclusões precipitadas, elegemos alvos para descarregar nossa revolta e não é muito difícil que palavras de ordem outrora aposentadas retornem com força.
Pegue a Ponte Preta e sua atuação de ontem contra o Vitória na derrota por 3 a 0. Torcedores invadiram as redes sociais e aplicativos de mensagem com sede de vingança. Motivo: querem porque querem reforços. Com esse elenco, dizem os torcedores, não há possibilidade nenhuma de êxito na Série B do Campeonato Brasileiro. Alguns já se preocupam com o rebaixamento.
Todo o alicerce da argumentação está no fato de que a Ponte Preta, para estes fãs enlouquecidos, jogou mal.
Neste instante aparece a necessidade de recolocar a casa em ordem. Direcionar a análise para um sentido correto. Premissa básica: a Ponte Preta não jogou mal. Ela atuou de maneira errada.
Vamos conceituar. Jogar mal é você estabelecer uma planificação tática e uma estratégica e não conseguir colocá-la em prática. Ou porque ocorreu diversos erros de passes ou porque o seu jogador está em péssima jornada técnica. Não foi isso que ocorreu em Salvador.
Aos fatos.
Durante toda a Série A-2 do Campeonato Paulista, a Ponte Preta tinha um modus operandi solidificado. A marcação era adiantada para a retomada rápida da posse de bola. Caso a pressão não dê o resultado esperado, a Ponte Preta é um time que gosta de ficar com a bola.
Como? Com cortes precisos de Felipe Amaral, com a transição rápida de Léo Naldi e o trabalho criativo desempenhado por Elvis e Matheus Jesus como coadjuvante. Como Léo Naldi está afastado por lesão, Luiz Felipe foi colocado em seu lugar. Nem precisava.
Por que? Por que em boa parte do primeiro tempo, ao invés de trabalhar a bola, a Macaca insistiu na ligação direta para Jeh, que ficava perdido entre os zagueiros Camutanga e Wagner Leonardo.
Como desgraça pouca é bobagem, como a bola rifada ficava com o Vitória (BA), este tinha liberdade para trabalhar pelos lados e ainda encontrava uma defesa que não estava compacta.
Por qual motivo? Ora, se eu despacho a bola em toda a jogada, é evidente que isso colabora para descompactar meu meio-campo e a defesa. Resultado: meu adversário ganha liberdade para conduzir a bola nas imediações da área em total liberdade, sem marcação.
Todo esse roteiro descrito resultou nos dois gols do Vitória na etapa inicial. No primeiro, a falta desnecessária diante de um Giovanni Augusto que já recebia a bola livre e sem tormento.
No segundo gol, Oswaldo marcou um gol bonito. Pura verdade. Mas isto foi possível graças ao buraco de marcação que existia a frente da área. A Ponte Preta melhorou no segundo tempo? Sim, mas muito mais fruto do Vitória, que renunciou ao ataque e esperou para dar o bote certeiro. E deu com Rodrigo Andrade: 3 a 0 e placar final.
Só faltou acrescentou um dado em tudo isso: quem montou tudo isso? Quem foi o responsável por essa cadeia de erros? Pois é. Hélio dos Anjos. O que ele fez na Série A-2 jamais será apagado. Foi campeão e pronto.
Só que isto não isenta o apontamento de seus erros e equívocos. Se não ocorreu vacilo na escalação, ficou evidente que sua avaliação sobre o adversário foi incorreta. Mais: se os jogadores estiveram em má jornada, como ele afirmou, a comissão técnica tem cota de responsabilidade.
Repito: dizer que os jogadores atuaram mal não corresponde ao filme construído no Barradão. A Ponte Preta perdeu porque jogou de modo errado. Que Hélio dos Anjos reflita e retorna a rota vencedora. Para buscar a reabilitação no menor tempo possível. Porque a Série B é um campeonato longo, de 38 rodadas, mas de duração curta, até novembro. É urgente reagir para não chorar no futuro.
(Elias Aredes Junior com foto de Vitor Ferreira-E.C Vitória)