A Ponte Preta não decepcionou o seu torcedor e venceu por 4 a 0 0 Fluminense (PI) e deu uma largada satisfatória na Copa do Brasil. A derrota do ano para o Cascável ficou no passado. Mais do que a conquista dos três pontos, o foco principal foi assegurar uma grana total de R$ 2, 6 milhões. É um alivio e tanto para os cofres pontepretanos.
Finanças, aliás, que estão em petição de miséria devido aos bloqueios judiciais e a medida administrativa do Transferban que, na prática impede novas contratações até que a Alvinegra coloque as contas em dia. Pelo menos as dívidas com Eduardo Baptista e com o jogador Nathan, hoje no Atlético Mineiro.
Mas no meio deste turbilhão e na comemoração da vitória você parou para pensar em algo simples: por que a Ponte Preta precisa tanto desse dinheiro? Qual o motivo que leva os dirigentes a esfregarem as mãos a levantarem as mão para o céu com a chegada do maná.
Não é apenas a crise financeira, política e administrativa. Ajuda, empurra mas não é o fator principal. O alicerce deste desespero está na desigualdade de renda presente no futebol brasileiro e que tem um histórico cruel.
O capitulo inicial ocorre em 1987, quando ocorre a fundação do Clube dos 13, que ao fechar um acordo com a Rede Globo e instalar na canetada um Brasileirão com 16 clubes os barões da bola fizeram um rebaixamento de gabinete que afetou vários clubes, entre eles, a Ponte Preta.
Depois, por anos e anos, enquanto boa parte da fatia do tesouro ficava na mão do C13, sem querer repartir com ninguém, clubes como a Ponte Preta tinha duas saídas para sobreviver: ou revelavam jogadores talentosos de maneira desenfreada ou dependiam de um mecenas para sobreviver.
A Ponte Preta, sem força para gerar recursos que pudessem ombrear-se com os principais player´s do futebol nacional ficou com as duas estratégias. Ficou anos e anos dependentes de pequenos milagres fabricados pelo Sub20 ou de aportes que pudessem pagar o mês seguinte. Não existiu preparação para o futuro. Tudo ficou na base do achismo.
No meio desse trajeto, nova decepção.
Em 2010, o Clube dos 13 decidiu realizar um processo de licitação que possibilitasse a escolha de novas plataformas de transmissão dos jogos. Uma das concorrentes era uma empresa telefônica, que prometia fazer uma proposta irrecusável.
Imediatamente, incentivado pelo Corinthians, o Grupo Globo aderiu a negociação individualizada, que fortaleceu ainda mais os gigantes e deixou os médios e pequenos com o pires na mão. Quando disputou o Brasileirão de 2012 e 2013, a Macaca sentiu na pele essa disparidade e após subir em 2014 estabeleceu novos parâmetros de negociação que fez o clube chegar a um orçamento de R$ 70 milhões em 2017.
Que foi desperdiçado, diga-se de passagem. Este novo rebaixamento colocou a Macaca em uma vala financeira de recursos que assemelha-se a uma areia movediça: quanto mais pisa, mais afunda.
Entenderam?
No fundo, no fundo, o que a CBF faz é conceder uma esmola, uma contribuição para amenizar o sofrimento de agremiações que passaram anos e anos atolados em uma desigualdade que produziu pobreza técnica e caos financeiros. Sim, evidente que os dirigentes pontepretanos deram sua cota de colaboração. Mas não dá para fechar os olhos para o quadro criado no futebol brasileiro.
Antes, a Ponte Preta disputava a Copa do Brasil para incrementar o seu portifólio esportivo. Hoje cada vitória na Copa do Brasil é apenas um grito desesperado de sobrevivência.
(Elias Aredes Junior com foto de Weslley Douglas-Pontepress)