Fui torcedor antes mesmo de ser gente. Meu registro como sócio do meu clube de coração é mais antigo que minha certidão de nascimento.
Antes mesmo de aprender a ler e escrever, já sabia meu hino de cor.
Não sabia as regras de matemática, mas explicava impedimento como ninguém.
Aprendi direções com o caminho do estádio. Meus amigos são de arquibancada. Vivo e respiro futebol.
Sou da época que o talento valia muito. Que a camisa pesava, mas não determinava resultado.
Da época que os dirigentes eram respeitados por seus trabalhos sérios e honestos. Da categoria de base forte. De clube formador.
Sou do tempo em que futebol era do povo. Da família, da galera, de todos.
Hoje o dinheiro finalmente venceu o talento, que raramente aparece nos jogos.
Ingressos superinflacionados, equipes pífias, cumprindo tabela em campeonatos de cartas marcadas.
Ir ao jogo atualmente, mais que lazer, tornou-se resistência.
Resistência contra tudo que pretende acabar com futebol que conhecemos. Resistência dos pequenos contra os grandes. De ainda acreditar no futebol, no esporte.
Sou um torcedor desiludido com tudo que acontece hoje em dia. Mas me vejo preso em uma teia e não sei como escapar. Como ajudar…
Sócio torcedor? Ok! Sócio patrimonial? Feito! Frequência em jogos? Altíssima.
Mas ainda assim, minha voz não é ouvida.
Apesar da desilusão. Continuarem resistindo. Não desistirei, porque sei que não estou sozinho. Eu represento todos do interior, os afastados dos grandes centros. Torço por amor e acredito pela fé.
(artigo escrito por Isabella de Vitto- Especial para o Só Dérbi)