Dinâmico, imprevisível e fora de sintonia da vida normal, o futebol oferece lições quando menos esperamos. Posturas que podem servir de exemplo. Um modelo acabado deste discurso esteve presente na final da Copa do Nordeste em que o Bahia venceu o Sport por 1 a 0. Atitudes tomadas nas duas equipes servem de modelo para a Ponte Preta ou qualquer clube de médio porte do Brasil.
O campeonato consagrou o trabalho de Guto Ferreira. Um dos melhores treinadores que já vi no trabalho de campo. Consegue extrair muito de quase nada e a disciplina tática é algo no qual não abre mão. Não é Deus. É um humano como qualquer outro.
Tem problemas para se relacionar com seus jogadores e dirigentes. No final das contas foi este o fator primordial para que fosse desligado duas vezes pela Macaca.
Tenho informações de que tal entrave surgiu no Bahia. Qual foi a diferença? O presidente do clube, o jornalista Marcelo Sant´anna bancou o trabalho de maneira irrepreensível. Não pestanejou em aceitar a exclusão de Renato Cajá após ter se rebelado em uma partida.
Hoje, Gilson Kleina é o técnico da Ponte Preta. Boa praça, ótimo caráter e com bons conceitos de futebol. Bancado pelo presidente de honra Sérgio Carnielli. Que por questões judiciais deveria evitar manifestações públicas. Resultado: Kleina tem que rezar para que quando a tempestade aparecer algum diretor estatutário crie coragem e venha ratificar a sua estadia.
Caso o pior aconteça, que seja como fez o Sport. De maneira rápida, clara, digna e transparente. Sem perder tempo, após a decisão, o vice-presidente de futebol do clube, Gustavo Dubeux, apareceu e anunciou a decisão. “Quero agradecer Ney Franco pelo dia a dia. Pelas dificuldades que teve, ele fez um bom trabalho. Mas entendemos que era a hora de fazer a substituição”, afirmou. Veja: não foi o gerente de futebol ou funcionário do clube que deu a cara para bater. Foi um dirigente do corpo executivo. Que assumiu a bronca na hora do sufoco. Prestou contas ao torcedor. Na despedida, Ney Franco não mostrou desconforto e sim satisfação pela dignidade incutida no processo.
Pegue este contexto descrito e faça uma retrospectiva na Ponte Preta. Quando foi eliminado pelo Cuiabá na Copa do Brasil, o técnico Felipe Moreira, já ameaçado, compareceu em uma entrevista coletiva recheada de constrangimento.
No dia seguinte, as informações eram tão desencontradas que não existia a mínima noção de permanência ou demissão do treinador. Só no final da noite, Gustavo Bueno e o diretor de futebol Hélio Kazuo apareceram para confirmar o que todos tinham como certo. Pior: sem um plano B à vista.
Que o trabalho de Gilson Kleina tenha êxito e mostre novos frutos. E que os dirigentes tenham a humildade de aprender com quem toma as decisões corretas e acertadas para a conjuntura.
(análise feita por Elias Aredes Junior)