O futebol parece ser o abrigo para caudilhos e salvadores da pátria. Neste contexto, uma instituição fica em segundo plano, os Conselhos Deliberativos. Espaço adequado para discussões, cobranças e formação de novos dirigentes, este espaço perdeu pluralidade nos clubes nos últimos anos. O Guarani não fugiu a regra. Pior: em dado momento existia radicalismo de ambos os lados, o que impedia avanços. Em outros instantes, o espaço era tão cooptado pelo governante de plantão que inexistiam ideias e o Guarani padecia por inanição intelectual de seus líderes.
Pois bem. O Guarani elegeu um novo Conselho Deliberativo no domingo. A Chapa Integração, de situação, teve 195 votos e ficou com 47 cadeiras enquanto a oposicionista Renova teve 139 votos e ficou com 42% dos votos válidos e com 33 cadeiras no Conselho Deliberativo. Outros cinco sócios torcedores foram eleitos. A nova formação tem uma série de desafios e que não podem ser ignorados.
Liberdade de expressão – A primeira missão é a aplicação do conceito de pluralidade e de liberdade de expressão. Duas correntes presentes são insuficientes para retratar os grupos de pensamento do Guarani. Ou em qualquer clube. Os torcedores bugrinos não podem nutrir medo de opinar, participar, propor e debater os destinos do clube.
Não existe uma linha de pensamento soberana. Não há democracia sem abertura ao novo, ao diferente. Tal missão não cabe ao Conselho de Administração, eleito para tocar a agremiação e aplicar seus conceitos de gestão. O espaço da pluralidade precisa ser cavado pelos conselheiros. Ninguém mais do que eles pode viabilizar uma mudança de rumo e de foco.
O Guarani é de todos – O novo Conselho Deliberativo desembarca com a missão de transformar o Guarani em lutar para o clube ser um lugar agradável. Sim, muitos associados do Guarani até querem participar da vida social da agremiação, desejam encaminhar sugestões ao aprimoramento da gestão do futebol, mas se sentem constrangidos. Para eles, a paixão pelo Guarani continua intacta mas a tristeza invade o coração quando percebem que não são bem vindos.O novo Conselho precisaencontrar formas de transformar o Guarani em um clube de todos, sem exceção.
Para quem precisa coloco uma contextualização histórica: Leonel Martins de Oliveira e Luiz Roberto Zini eram adversários políticos ferrenhos e pessoais na década de 1980. Protagonizaram duas eleições acirradas e disputadas. Cada um teve uma vitória. No entanto, em momento nenhum dos dois grupos achou que o melhor seria retirar-se do Guarani. Leonel, após a vitória de Beto Zini, entrou sim em exílio voluntário, mas entrou de cabeça novamente na vida do clube ao receber uma homenagem do Conselho Deliberativo.
Formação e modernidade na mente – A terceira tarefa é quanto a formação de dirigentes e com bases e conceitos sólidos. O Conselho Deliberativo precisa servir como “escola” para a formatação de novas práticas administrativas e de executivos com sentido democrático e plural. O futebol avança, muda de conceitos vertiginosamente e nos últimos anos o Guarani padeceu também pela desatualização reinante no prédio administrativo. O novo Conselho deve e tem que colaborar para isso.
Todos esses pontos mencionados são dificéis de serem implantados? Não há dúvida. Mas o que diferencia os medianos daqueles que fazem história é a capacidade de superar obstáculo e estipular novos tempos. Que o novos integrantes do Conselho Deliberativo tenham isso em mente.
(análise feita por Elias Aredes Junior)