Marcelo Chamusca é estudioso. Estrategista e sabe lidar com o grupo de jogadores como poucos. Já está na história do Guarani como condutor de uma campanha de acesso, lugar também ocupado por Carbone, Luciano Dias, Oswaldo Alvarez e Vilson Tadei. Mas Chamusca não é Deus. Está longe de ser perfeito. Como qualquer ser humano, comete falhas e tem equívocos.
Se existe um aspecto positivo na derrota por 4 a 0 diante do ABC, válido pelas semifinais da Série C do Brasileiro é tirar a aura de “divindade” do atual treinador bugrino e suscitar um debate: vale a pena atender as suas exigências e indiretamente lhe fornecer a chave do departamento de futebol em 2017 mesmo com a participação de Rodrigo Pastana e Anaílson Neves? Os fatos recomendam cautela.
A campanha de 38 pontos na fase inicial deve ser celebrada? Ninguém pensa o contrário, assim como a vitória sobre o ASA (AL) por 3 a 0 no Brinco de Ouro e que carimbou o acesso á Série B. Só que as últimas duas derrotas emitiram sinais que não podem ser desprezados.
O torcedor do Guarani e seus dirigentes não podem viver em uma realidade paralela sob o risco de viver os próximos meses entre a agonia e a apreensão.
Fatos incontestáveis: nos últimos 180 minutos que atuou como visitante, o Alviverde tomou sete gols. Em circunstâncias diferentes. Em Arapiraca, o time sucumbiu após as falhas do goleiro Leandro Santos e pelas falhas de compactação do meio-campo, aproveitado pelo meia armador Diogo.
A conjuntura voltou a se repetir contra o ABC e com um agravante: do outro lado existia um armador técnico e habilidoso capaz de aproveitar as brechas. Lúcio Flávio não fez a diferença apenas nas cobranças de falta, mas na coordenação das jogadas. Fica a pergunta: por que nas duas ocasiões a predileção foi sobre Zé Antônio, nitidamente lento e sem pegada em detrimento de Evandro, que pode não ser um primor técnico, mas tinha a mobilidade necessária para a tarefa? Não conto com Wesley em virtude de sua situação contratual. Ainda bem que atuou no confronto que interessava.
Destaque na fase inicial da terceirona (com justiça) a dupla de zaga formada por Ferreira e Lenadro Amaro demonstrou dificuldades em marcar atacantes de velocidade. Contra o ASA (AL), Reinaldo Alagoano fez Amaro de gato e sapato e anotou um gol. Foi bem marcado na decisão, mas não podemos esquecer que naquela ocasião o meio-campo tinha mobilidade e presença de marcação com Wesley. Cenário que desapareceu no Frasqueirão. Nenhum dos dois conseguiu parar satisfatoriamente Jones Carioca e os seus dois gols foram uma consequência natural. Demitir os dois zagueiros é a solução? Nada disso. Só considero salutar pensar que a contratação de mais beques é um requisito fundamental para oferecer outras características de jogo. Lógico, desde que estejam dentro do nível técnico da segundona.
Geninho, técnico do ABC, ao colocar Márcio Passos na cola de Fumagalli demonstrou outra fragilidade bugrina, que é a dependência do armador de 39 anos. É algo preocupante se levarmos em conta a determinação de Chamusca de sustentar a base deste ano e verificarmos que ninguém demonstra capacidade de suprir a ausência criativa de Fumagalli. Ou você está feliz com a produção de Marcinho, Renatinho e Deivid? Pense, reflita…
O Guarani não pode cair na armadilha de imaginar a partida de domingo como algo acidental. Foi um prenúncio dado pelo destino de que pontos devem ser corrigidos e que alguns conceitos do treinador devem ser reavaliados. Sem caça às bruxas e sem ignorar o seu enorme crédito construído a partir do banco de reservas. Mas ASA (AL) e ABC (RN) revelaram por A mais B a temeridade de colocar a direção do departamento de futebol na mão de apenas uma ou duas pessoas. 2017 é logo ali.
(análise feita por Elias Aredes Junior)