Cidadania: o craque que precisa ser contratado pelos clubes paulistas em tempos de pandemia

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Vamos fazer um exercício de futurologia. Em cima das duas hipóteses. A primeira é o futebol paulista ficar paralisado por 15 dias e retornar em abril.

A outra é a continuidade em outro estado, o que asseguraria os contratos de televisão. Nas duas hipóteses algumas perguntas são pertinentes: até quando o futebol e seus personagens (jogadores, técnicos, dirigentes, crônicas esportivos) vão continuar em sistemática ignorância e desprezo para aquilo que acontece no nosso dia a dia? Até quanto vão ignorar os efeitos nefastos da pandemia?

O vídeo do técnico Lisca, do America Mineiro, antes do jogo contra o Athletic, pelo Campeonato Mineiro, viralizou não foi somente pelo tom adotado pelo técnico. E nem pela referência indireta feita a morte dos técnicos Ruy Scarpino e Marcelo Veiga. A declaração do técnico espalhou pelo Brasil porque saiu do roteiro do ambiente do futebol. Existia empatia. Humanidade. Solidariedade. Preocupação com o semelhante.

Será que vão continuar as entrevistas insossas, artificiais, sem sal ou açúcar e que falam apenas do jogo? Os atletas vão continuar desconectados de um país que contabiliza mortos em ritmo alucinante e com profissionais da saúde em estado de miséria? Bom que se registre: Fábio Moreno, técnico da Ponte Preta, foi um dos únicos a tratar do tempo. Em entrevista coletiva. Saiu do roteiro. Que bom.

E alguns jornalistas? Vão continuar com a saga de ignorar a crise sanitária que afeta o país e o que futebol está envolvido? Ou a decisão é continuar a comparar números de outros países para justificar a alienação do futebol em relação a uma tragédia nacional?

Como faz falta nesta hora que estivesse na ativa figuras como Paulo César Caju, Reinaldo, Casagrande ou Tostão. Craques na bola e na cidadania. Aliás, um camisa 10 há muito tempo ausente do futebol brasileiro. Uma pena.

(Elias Aredes Junior)