Jogar pedra de maneira inconsequente não leva a nada. Criticar por criticar é algo sem sentido e traz nebulosidade ao debate da opinião pública. Sejamos práticos: a maioria da torcida pontepretana desaprovou a indicação de Felipe Moreira. Argumentos, semelhanças com outros clubes…nada comoveu as arquibancadas.
A medida transformou-se em sinal de acomodação. Tudo resolvido? Nada disso. O futebol, assim como a política, é como as nuvens: um dia está de um jeito. No dia seguinte o formato é outro. Por vezes, sem explicação. Na concepção deste singelo jornalista, as chances da nova comissão técnica dar certo é de 50%. Que tal pensarmos no que deve ser feito para a resistência ser quebrada? Que medidas o novo comandante e a diretoria devem adotar para viabilizar o sucesso desta nova gestão? Algumas medidas são tão óbvias que nem deveriam ser citadas. Duro é a simplicidade e a rotina terem virado artigo raro no Moisés Lucarelli. Tem como inverter o quadro. Vejamos:
1- Humildade com torcedores e a imprensa: Eduardo Baptista fez boa campanha na Ponte Preta. Cumpriu com sua missão e foi além ao recuperar jogadores como o lateral-direito Nino Paraíba ou ter dado oportunidades para Matheus Jesus e Ravanelli. No mundo midiático de hoje é bom, mas insuficiente. Saber transmitir uma imagem correta é passo decisivo. Inconscientemente, o ex-treinador da Macaca deixou uma imagem de prepotência, arrogância, que estava acima de tudo e de todos. Inclusive no relacionamento com a imprensa. Patadas e respostas recheadas de empáfia já fazem parte da história.
O que deve fazer Felipe Moreira? Adotar a cartilha de gente como Tite ou Gilson Kleina, cujas as entrevistas têm uma mistura de conteúdo e postura de humildade. Ou seja, transmitem o que querem com suas equipes sem encontrar-se no pedestal. Se Felipe Moreira adotar tal atitude, pelo menos já gera o sentido da dúvida. Ao contrário do que muitos pensam no estádio Moisés Lucarelli, a imprensa não é inimiga. Cumpre seu papel. O mínimo que se espera é que seja tratada com educação. Que o novo treinador tenha tal conceito.
2- Respaldo da diretoria: Vinicius Eutrópio e Alexandre Gallo foram demitidos da Ponte Preta e os dirigentes pouco apareceram para defender o trabalho, seja Gustavo Bueno, Giovanni Di Marzio (ainda assim os mais assíduos) ou Vanderlei Pereira, Sérgio Carnielli e Hélio Kazuo. Atitude é tudo. Ao sumirem dos microfones ou das redes sociais, a mensagem foi transmitida: o desempenho não agrada e no primeiro tropeço a troca será inevitável. Foi o que aconteceu. Mesmo com Eduardo Baptista, as aparições foram esporádicas, sazonais. Colaborou para corroer o trabalho junto a torcida? Muito. Qual a saída? Simples como água: dirigentes devem aparecer de modo mais constante junto aos jornalistas, mesmo que seja para dar respaldo ao trabalho em declarações em off. Caso tropeços aconteçam, o treinador deve ser preservado na entrevista coletiva em último caso e talvez seja melhor até o dirigente falar. Uma autêntica panela de pressão, o Flamengo sempre tem Rodrigo Caetano a postos no menor sinal de crise. Tal fator foi essencial para viabilizar a boa campanha no Brasileirão.
3- Consertar a defesa e melhorar o rendimento como visitante: Nos botecos, redes sociais, locais de trabalho ou no ônibus algo é unânime: a defesa da Ponte Preta foi um desastre no Brasileirão. Por enquanto, 52 gols em 37 rodadas. Em 2013, a Macaca caiu com 55 gols em 38 rodadas. Ou seja, é sina de rebaixado. Na atual conjuntura, Felipe Moreira precisa concentrar seus esforços na pré-temporada para resolver o gargalo. As falhas na bola parada, os vacilos na segunda bola, a facilidade de penetração dos atacantes de velocidade… Vou mais longe: acoplar o bom rendimento defensivo com força como visitante. Se ele resolver tais questões no Paulistão-2017 como alguém contestará o seu trabalho? Pois é.
4- Convicção e coerência sim; teimosia jamais: reconheço que o tema é controverso. Polêmico. Mas no caso da Macaca a descrição é fácil. Felipe Moreira tem o direito, dever e obrigação de dar uma cara ao time da Ponte Preta. Um esquema com um atacante, laterais para desafogo, contra-ataque azeitado e força no campo ofensivo. Deve dar continuidade se um jogador oscilar por um ou dois jogos. Faz parte do roteiro. Agora, o que não dá para aceitar é bancar a escalação de determinado jogador por todo o campeonato, mesmo que apresente falhas crônicas. Fábio Ferreira e seu futebol se constituem na tradução do que acabei de descrever. Como assume com respaldo do elenco não é difícil imaginar que ele terá facilidade em retirar do gramado quem exibir futebol abaixo da crítica. Copiar Eduardo Baptista neste requisito é abrir a gaveta para pegar o cartão vermelho.
5- Entender os anseios e as angústias do torcedor: Felipe Moreira não é aprovado por boa parte da torcida da Macaca. Fato. Como inverter o quadro? Nunca entrar em confronto verbal é requisito básico. Em segundo lugar, a sabedoria deve entrar em campo e o novo treinador entender que o Paulistão para o torcedor não é laboratório. É, sim, a chance de ouro para chegar as semifinais ou até uma final e lutar pelo sonhado título. É utilizar as entrevistas para transmitir esperanças e a percepção de que algo novo vai acontecer. Pode dar errado? Sim, pode. Mas transmitir a sensação de tentativa de busca de algo diferente. Abraçar o tédio e a pasmaceira é o passaporte para a indiferença das arquibancadas, o que seria fatal.
(análise feita por Elias Aredes Junior)