Perdi a conta das vezes em que testemunhei pessoas que na hora de vender um imóvel que pertenciam aos seus antepassados nutriam um sentimento de dor ou de relutância.
Não era apenas uma estrutura de concreto erguida por um bando de pessoas e por determinado período. Ali existia história, sentimento, alegrias, tristezas, personagens, fatos…Ou seja, existia vida. Até se pode dar o passo adiante, mas sem ignorar que um pedaço de você fica para trás.
Lembrei disso ao verificar a marcação da reunião do Conselho Deliberativo que vai analisar a questão da Arena para ser construída no Jardim Eulina.
O edital assinado pelo presidente do Conselho Deliberativo, Tagino Alves dos Santos, é frio, gelado, seco, duro. Faz a programação para discussão de um novo estádio. A indagação vem a mente: e o estádio Moisés Lucarelli? O que explicar esse sentimento implícito de desprezo ou de colocar tal palco em plano secundário?
Desculpas e justificativas não faltam. “É preciso pagar o Sérgio Carnielli”, “Temos que adquirir um novo patamar”, “A Ponte Preta precisa ficar antenada com a modernidade com ”. Enumeram tais argumentos como se fossem naturais, normais. Não são.
Não falamos de um estádio qualquer. É o estádio que quando foi inaugurado era o segundo em capacidade pertencente a uma equipe e só perdia para São Januário; Um local erguido pelos torcedores. Gente que hoje está com 70 ou 80 anos assistiu in loco os seus pais realizarem sacrifícios para erguer algo feito de tijolos, mas cujo o cimento no fundo era o coração e o amor de cada torcedor.
Foi nesse gramado que desfilarem craques como Dicá, Oscar, Atis Monteiro, Rui Rei, Chicão, Washington, Mineiro, Luiz Fabiano…Poderia citar uma centena. Gente capaz de produzir história e eternizar emoções. E agora, do nada, esse local será descartado ou entregue para outra pessoa como se fosse troco?
Talvez o motivo da resistência de muitos pontepretanos a nova arena não é porque os ingressos vão custar caro ou sua manutenção pode ser proibitiva. O cerne da questão no fato de tratar o Majestoso como mais um. E não é. Esta é a casa do pontepretano. Aliás, será que a torcida quer vender a sua própria casa? Uma pitada de sentimento nunca fez mal a ninguém. Especialmente quando falamos de um clube centenário e com uma torcida apaixonada.
(Elias Aredes Junior)