Como o jornalista clubista atrapalha o futebol

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O técnico Abel Ferreira meteu a boca no trombone. Em entrevista ao podcast 90+3, da conmebol disse com todas as letras que os jornalistas esportivos no Brasil vestem a camisas dos seus clubes do coração no exercício.

Ele disse: “Aqui o jornalista veste muito a camisa (do time). O jornalista precisa ser imparcial. Não interessa se é do Corinthians, do São Paulo ou do Palmeiras, tem que tirar a camisa. Não pode vestir a camisa para falar dos adversários. Quando vestes a camisa, não estás a fazer uma coisa séria e responsável.  Eu tenho meu clube desde pequeno, mas não vou dizer, eu sou profissional de futebol. As pessoas não tem que saber qual é o seu clube. Às vezes, quando as pessoas colocam o microfone à frente, as pessoas conseguem saber: “Esse aqui torce para o clube X”. Se você quiser fazer uma coisa séria, intelectual e verdadeira, tem que tirar a camisa e falar o que está vendo. O Palmeiras jogou bem, digo que jogou bem. Se jogou mal, digo que jogou mal. Precisa ser uma crítica honesta, não pode ser populista“, disse o treinador.

Posso até concordar que ele tenha generalizado a critica, mas a ideia é valida e deve ser discutida. Sim, é algo daninho e que deve ser contestado. Não dá para passar batido. Prejudica o jornalismo, o futebol e a circulação da informação de qualidade.

O “gatilho” tem o Twitter como palco.

Jornalistas esportivos só falam de seus clubes do coração. Mesmo aqueles que são vinculados a veículos tradicionais de mídia. Os torcedores dão combustível para tal comportamento.

As justificativas são várias.

Uma é comum: a de que só uma pessoa que torce para determinado clube é que conhece a realidade dele. Com todo o respeito, um argumento tosco. Seria o mesmo que dizer que o jornalista especializado em política e conservador não é capaz de acompanhar os lances em um partido progressista. Jornalismo é jornalismo em qualquer lugar.

Existe uma semente para tal distorção. E nisso todos temos culpa. Valorizamos muito mais as equipes do que os campeonatos.

Ora, eu só gosto de um time porque gosto de futebol. E a beleza do futebol pode ser encontrada em gigantes como Flamengo, Corinthians e Atlético Mineiro como na produção eficiente de um Fortaleza, Ceará ou um Bahia.

Infelizmente só consideramos um bom campeonato aqueles que tem os gigantes na ponta. Quem disse isso? Quem estipulou isso? O Atlético Mineiro é o legitimo campeão brasileiro.

Jogou um futebol vistoso, eficiente e empilhou taças. A cobertura da mídia foi do tamanho da conquista? Não acredito. Como nós, residentes no eixo rio São Paulo só temos olhos para o que fazem os quatro grandes de São Paulo e do Rio, tudo que for feito fora deste limite não tem valor. Ou não registra o mesmo peso.

Enquanto buscam um jornalista para chamar de seu, o torcedor fecha os olhos para os desmandos e a corrupção reinantes no futebol brasileiro.

Neste caso, o jornalista não deveria vestir a camisa do seu time do coração e sim investigar, fiscalizar e cobrar. Pena que poucos querem entrar em campo.

(Elias Aredes Junior- Foto : Rebeca Reis / Staff images Woman/ CBF)