Conselheiro é acusado de injúria racial na Ponte Preta. Existirá julgamento equilibrado ou teremos um assassinato de reputação?

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Desde a sua criação, em 2016, este Só Dérbi sempre deixou clara a sua repugnância contra qualquer ato que envolva racismo, machismo e homofobia no futebol. Não acreditamos em prática de um futebol saudável e inclusivo sem a presença de instrumentos que protejam as minorias de qualquer tipo de ataque.

Um clube como a Ponte Preta pode e deve zelar por tais conceitos. Sua história é tradução de como o povo negro precisou unir-se e ser solidário para sobreviver e fazer diferença. Diante disso, não havia como deixar de saldar a presença de negros na nova diretoria comandada por Sebastião Arcanjo.

Sejam competentes ou ineficientes, dotados de independência ou pressões para satisfazer grupos específicos, a simples presença dessas pessoas gera um simbolismo forte. E que não pode ser ignorado.

A conquista acarreta em responsabilidades. E cuidados. É o exercício do poder. Na reunião deste sábado, no salão nobre do Majestoso, o Conselho Deliberativo suspendeu os direitos do conselheiro contribuinte Marco Antonio Castiglieri. O motivo seria uma suposta injuria racial contra a diretoria pontepretana.

Um procedimento investigativo foi aberto para apurar o ocorrido. O Conselho assegura que o conselheiro terá amplo direito de defesa. Ao fim do processo de apuração, a suspensão poderá ser retirada ou, caso seja confirmada a acusação, Castiglieri sofrerá punições administrativas que podem chegar à expulsão.

O fato que gerou a suspensão aconteceu em dezembro do ano passado quando, em uma notícia repostada na Internet (“Tiãozinho compõe diretoria da Ponte Preta com três negros e uma mulher; veja os nomeados”), Castiglieri fez um comentário interpretado como preconceituoso.

A descrição mostra a gravidade do fato. Só quem é vitima de uma injuria racial ou de ato explicito de racismo sabe a dor e a ferida na alma. O presidente pontepretano e os integrantes da diretoria encontram-se no direito de acionar a Justiça na busca dos direitos.

No entanto, isso não isenta tais pessoas de erros cometidos no processo de denúncia. Tiãozinho e os membros da diretoria se constituem no poder pontepretano, assim como a mesa do Conselho Deliberativo.

Um tema de tamanha gravidade, deveria ter como pressuposto principal a comunicação prévia ao conselheiro contribuinte Marcos Castiglieri.  Para que sua defesa fosse apresentada, mesmo que previamente na reunião do Conselho Deliberativo, nem que fosse por escrito.

Repito: não diminuo a dor sofrida pelos dirigentes pontepretanos. Só que encaminhar a denúncia sem a presença do acusado na reunião pegou muito mal. Flertou com assassinato de reputação.  Repito: não diminuo o tamanho da acusação e nem a dor de quem é vitima de um fato desse. É duro. Dolorido. E se for comprovada a culpa de Castiglieri a punição deve ser exemplar.

Só que  se estamos em um país que preza pelo estado democrático de direito, o passo primário é que tanto o acusado como o acusador possam expor suas explicações em condições igualitárias. É o mínimo que se espera.

Quanto ao posicionamento de Marco Castiglieri, a reportagem do Só Dérbi entrou em contato com ele para que ele pudesse dar a sua versão dos fatos. Ele disse que se encontrava em uma reunião e que vai se pronunciar em um artigo que será publicado neste portal ainda na noite deste sábado.

(Elias Aredes Junior)