Cruzeiro e a verdade como camisa 10 de um processo de redenção

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Sou adepto e fã da verdade. Ela revela, desnuda e derrota a mentira. Inapelavelmente. A verdade concede um diagnóstico preciso e por vezes até cruel dos nossos problemas e dramas. É simpática em avisar com antecedência o que é certo e o que dará errado. Ou dá sinais quando o pior deverá surgir no horizonte. 

Nesta quinta-feira, dia 22 de setembro, o torcedor do Cruzeiro tem uma mistura de jubilo, alívio e celebração. A equipe voltou a primeira divisão do futebol nacional. Ganhou do Vasco da Gama por 3 a 0 e chegou aos 68 pontos. Não será ameaçado por mais ninguém. Este momento aconteceu porque a instituição Cruzeiro Esporte Clube precisou estabelecer um pacto com a verdade e a transparência. Mesmo contra a vontade de alguns. A verdade se impôs. Alertou em altos brados aquilo que precisava ser feito. Qual motivo para ficar aliado da verdade? Resposta: o clube morria por dentro. 

E a data inicial desse pacto foi em um domingo, no dia 26 de maio de 2019, quando o programa Fantástico, da Rede Globo, veiculou reportagem de autoria de Gabriela Moreira e Rodrigo Capelo. O material demonstrava de modo cabal a morte de uma instituição a céu aberto. Um trabalho jornalistico impecável, bem apurado e que talvez só não ganhou o devido reconhecimento por causa da contaminação do vírus do entretenimento em parte relevante daqueles que trabalham ou que consomem os produtos do jornalismo esportivo brasileiro.

Em países com fatos normais – e não vivemos tempos normais- após o acesso assegurado, tanto Gabriela Moreira como Rodrigo Capelo deveriam ser homenageados e reverenciados. Jamais perseguidos por exercerem com excelência o jornalismo, em todas as suas nuances. Quando este jornalismo é sócia da verdade não tem para ninguém: ela depura e melhora a sociedade.  

Após a denúncia por intermédio da reportagem no Fantástico e as investigações foi interessante notar que alguns (alguns!) torcedores tinham um comportamento de negação ou de recusa em aceitar aquilo que os balanços financeiros e as investigações gritavam: o Cruzeiro agonizava em praça pública. Algo precisava ser feito. Urgente. Antes que fosse tarde demais. 

Essas providências foram adiadas e a consequência foi sentida de modo dolorido pelo torcedor cruzeirense. Primeiro com o rebaixamento e depois com duas participações decepcionantes na Série B. Em 2020 e 2021, os dirigentes do Cruzeiro viveram em estado de negação. Consideravam que o peso da camisa bastava para sair do quadro dramático. A tabela de classificação exibiu um diagnóstico oposto. Em 2020, a equipe terminou na 11ª posição com 49 pontos e no ano seguinte ficou na 14ª posição com 48 pontos. Convenhamos: colocações que não fazem jus a tradição e a força de um clube quatro vezes campeão do Campeonato Brasileiro e vencedor de duas edições de Copa Libertadores e proprietário de seis titulos de Copa do Brasil. 

Eis que Ronaldo Nazário decide administrar o futebol do Cruzeiro por intermédio da SAF. Você pode torcer o nariz para o multicampeão no gramado e nos negócios, mas não pode negar um fato incontestável. Para administrar o Cruzeiro, Ronaldo escalou a verdade como titular. Nunca vendeu ilusões, revelou as dificuldades para contratar e mesmo após a conquista do acesso não teve dúvidas em dizer que o objetivo número 01 do Cruzeiro em 2023 é permanecer na Série A. Verdade. Sem disfarces. 

É preciso colocar a verdade na linha de frente para a recuperação do Cruzeiro como potência do futebol nacional. Equacionar as dividas, montar equipes competitivas e jamais, nunca divorciar-se da verdade como fio condutor da história. Foi a verdade que deixou tudo às claras e revelou que o Cruzeiro tem um longo caminho. Que o acesso seja o primeiro passo para a recolocação no seu devido e merecido lugar de uma potência inquestionável do futebol brasileiro, sul-americano e mundial. 

(foto Staff Imagens do Cruzeiro)