Dia 21 de setembro. Dia do Radialista. Vivi neste universo por 10 anos. Fascinante. Emocionante. Estou excluído desde o dia 03 de abril. São quase seis meses que mudara minha vida. Provocaram uma reflexão. Ali, vislumbrei aquilo que o ser humano tem de melhor e pior. E me despertaram para alguns valores que tinha esquecido.
Vivenciei três fases distintas no rádio esportivo de Campinas. A primeira a da descoberta. Gente do bem como Claudinei Corsi e Walter Paradella que gastaram tempo e paciência em ensinar o que se espera de um bom comentarista. Depois, o amadurecimento com Alberto César Iralah. Discussões, embates, mas com uma diferença: o locutor e chefe de equipe fazia tudo para o meu bem. Estourou algumas vezes comigo, mas de frente, sem devaneios ou falsidades. Meu reconhecimento.
A terceira fase eu divido em duas partes. A primeira era quando estive vinculado a rádio que trabalhei por seis anos. Recebi por parte da cúpula diretiva (Cláudia, Cris e Charles, especialmente este último) o respeito e a consideração duros de se encontrar. Liberdade de opinião. Custe o que custar. Doa a quem doer. A eles deve o crescimento meu nome na cidade.
Nem tudo são flores. O mundo corporativo reserva surpresas. Algumas desagradáveis. Faz vítimas. Crava feridas. Derrubam com a auto estima. Não cometo indelicadeza. Existem exemplos saudáveis de que é necessário expor as entranhas de pessoas que não acrescentam no coletivo e só pensam em si.
O falecido jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, com elegância e perspicácia, mostrou as falhas e condutas pessoais errôneas de componentes do Grupo Globo e como isso interfere diretamente na qualidade do produto oferecido ao público. Adriano Silva, talentoso jornalista da Superinteressante, relata na obra “Treze meses dentro da TV – Uma aventura corporativa exemplar” como foi a experiência de ser sorrateiramente sabotado pelos companheiros do programa Fantástico, do qual era chefe de redação.
Uma das regras ditas por ele é a seguinte: “Uma das regras básicas para sobreviver na vida corporativa é conhecer o seu lugar e se ater a ele. Outra é construir alianças que lhe amparem. Duas regras que eu ignorei”, afirmou. A primeira parte tentei cumprir fielmente. Na segunda parte cheguei a conclusão que era impossível fazer alianças.
Por um motivo: vivi uma relação abusiva. A formação de um ambiente em que a meta principal era detonar minha autoestima, me colocar para baixo e ressaltar a vaidade de quem não consegue viver longe dos holofotes. Se sou vaidoso? Todos são. Mas Deus me fez enxergar que a vida vai muito além. E combato este vírus tenazmente. Outros preferem que isso traga corrosão na sua alma.
Uma relação abusiva em que cada personagem tinha a missão de destruir minha personalidade em várias frentes. O primeiro não tinha pudor em dizer que não deveria levar o trabalho de comentarista de rádio a sério. Não deveria cobrar dirigentes e jogadores com vigor e sequer levar em frente denúncias. “Encare isso aqui como diversão, como um espaço para você se distrair”, dizia. De modo estratégico, colocava dúvidas na minha cabeça: ora como vou me distrair se milhares e milhares levam os dois times a sério? Como?
O segundo utilizava a estratégia de reduzir para se projetar. Em diversas oportunidades, quando chamado a falar sobre mim, apenas dizia: “dedicado”. De certa maneira era uma maneira de preservar sua potencial auto estima e dizer o seguinte ao público: “ele só se esforça mas não sabe nada de futebol. Esqueçam ele”. Mais uma dinamite jogada na minha autoestima. O terceiro atuava em duas frentes. No ar, um mar de elogios; nos bastidores patrocinava tentativas sistemáticas de me tirar do jogo e até articulação para a contratação de outro comentarista.
No dia 03 de abril, eles conseguiram o que queriam. Algo que foi comemorado até por estudante de jornalismo que está prestes a se formar mas já atua na imprensa de Campinas na cobertura da Ponte Preta. Algo que as chegou as raias de proibirem que meu nome fosse pronunciado no ar no dia da minha saída.
Anteriormente, antes da minha saída, as consequências desta estratégia eram vivenciadas no ar pelos ouvintes. Minhas explosões quando tentavam desqualificar minha opinião e meu baixo inconformismo não eram frutos apenas dos desmandos dos dirigentes, mas também porque vivi por 19 meses um relacionamento corporativo abusivo, focado em destruir minha auto estima, minha personalidade e minha maneira de ser. E que só fui descobrir quando passei para o lado de fora.
Como reconstruir? Como recomeçar do zero. Neste aspecto, vocês, leitores do Só Dérbi e frequentadores das redes sociais, foram fundamentais. A cada dia, palavras de carinho e consideração foram dirigidas a mim. Injeção de autoestima, consideração e de confiança no meu trabalho aos poucos me fizeram entender que o jornalismo esportivo pode sim sobreviver. Não quero cometer injustiças mas amigos e pessoas envolvidas com o futebol me fizeram vislumbrar algo tão básico, mas que está a vista de todos: a vida não acabou. Você tem valor. Continue. Lute. Por você. Por nós.
Dos dirigentes, tanto de Ponte Preta e Guarani, o que sei é que a maioria deles teve um sorriso estampado no rosto pela saída. A eles só posso responder: que Deus tenha piedade de vocês.
Ao mesmo tempo, um sorriso do meu sobrinho, um incentivo da minha irmã Elaine e especialmente o apoio incondicional da minha esposa Débora me fizeram ver que a vida com afeto e carinho é muito fácil de ser vivida.
Confesso: acredito que não voltarei ao Rádio de Campinas. E de nenhuma parte do Brasil. Não porque não queira. Tenho consciência dos interesses envolvidos.
Mas Deus, em sua infinita bondade, apesar das imensas dificuldades vividas, me fez recomeçar e trabalhar em cima daquilo que realmente interessa na vida: afeto, solidariedade, consideração e reconhecimento profissional. Isso, com todo o respeito, vai muito além do microfone.
(texto de autoria de Elias Aredes Junior)