Dia do manto na Ponte Preta. Iniciativa surgida nas redes sociais. Torcedores famosos ou anônimos aproveitam o feriado da Proclamação da República para tirar a camisa da gaveta e desfilar o seu amor pelas ruas de Campinas.
A cada pessoa que coloca sua fotografia para visualizações dos amigos, sem querer, ela reafirma os preceitos que nortearam o surgimento de uma paixão centenária. E reforça o sonho daquilo que buscamos como sociedade.
A Ponte Preta é de todos. É do povo. Nada disso seria verdade sem um gesto concreto. A comprovação acontece quando você visualiza famílias com o manto. Negros “gritam” para todo mundo ouvir que aquela sua escolha representa não apenas uma decisão para lazer aos domingos e quartas, mas um símbolo da luta contra o racismo e o preconceito. Um negro pelas ruas de Campinas e com a camisa e o seu corpo dá o recado: “O meu clube não admite racismo e nem preconceito racial. Tenho orgulho disso”.
Percorra mais alguns quilômetros. Ande pela periferia. Homens e mulheres vestidos com a camisa da Ponte Preta. É o escudo contra as injustiças sociais, o drama da pobreza, a miséria que margeia seus espíritos dia após dia. Abandonados pelo estado, relegados pela realidade, o olhar sobre a camisa lhe remetem a uma frase simples e direta: “Estou contigo para o que der e vier”.
A Macaca derrete o coração de gelo dos ricos e afortunados. Sua camisa faz com que bairros aristocráticos e clubes burgueses tenham uma sensibilidade capaz não só de torcer para a Ponte Preta, mas de olhar ao redor. Quem senta nas vitalícias e fixa seu olhar nas arquibancadas acalenta a sensibilidade necessária para perceber que seu coração deve ser aliado e jamais inimigo dos mais pobres. Alguns estendem tal sentimento para a vida pessoal. Participam de programas sociais, apoiam a luta contra a desigualdade de renda. Não se iludam: o remédio redentor veio por essa camisa eletrizante e lotada de história.
O acesso virou sonho. Obsessão. Desejo incontrolável. O dia do Manto serve, no entanto, para o pontepretano relembrar o quanto a história da Ponte Preta representa aquilo que desejamos ao país. Um lugar de amor, solidariedade, luta e realização. Em todas as classes sociais.
(análise feita por Elias Aredes Junior)