O Congresso Nacional é a expressão maior do povo brasileiro. O Senado representa os estados, enquanto a Câmara dos Deputados é a representação do povo. Um voto, uma pessoa. Agora imagine, por um instante, que esse órgão pago pelo dinheiro público vire uma caixa blindada. Nada de filmagens, nada de áudios, fim de reportagens e matérias pelos veículos de comunicação e pelas assessorias de imprensa dos parlamentares. Guardadas as devidas proporçõesm é isto que deseja fazer o presidente do Conselho Deliberativo da Ponte Preta, Tagino Alves dos Santos.
Em uma circular divulgada na segunda feira, o presidente do órgão máximo da Alvinegra determina que está proibido filmar ou gravar em áudio quaisquer trechos das reuniões ordinárias ou extraordinárias. Um absurdo. Ele lista uma série de conselheiros que são permitidos o acesso aos encontros. Obediência ao estatuto. Correto? Nem tanto.
Em primeiro lugar, pelo fato de que a Ponte Preta é uma agremiação formada de baixo para cima. Qualquer leigo em futebol sabe que a participação popular foi fundamental para a formatação do clube. É o torcedor comum, o pobre, o descamisado, o explorado no dia a dia que viabilizou transformar a Macaca em uma história singular. Pergunta: o que justifica excluir o torcedor, hoje com acesso às informações pelos veículos de comunicação e pelas redes sociais a tudo que é discutido nas reuniões do clube do coração? Pois é.
Tagino justificou por filmagens na reunião anterior. Não cola. Tagino não terá coragem de falar e talvez até alguns colegas de imprensa, mas eu não posso fugir da responsabilidade. A proibição é apenas uma medida paliativa para preservar a figura do presidente de honra, Sérgio Carnielli.
Nas reuniões do Conselho Deliberativo em que teve a palavra, o dirigente atuou de maneira inconveniente e até resvalando no desrespeito aos opositores. Como suas declarações foram vazadas e isso foi um dos estopins que destruíram sua credibilidade perante as arquibancadas, a medida tomada é muito simples: fecha-se a reunião e Carnielli poderá falar o que desejar, sem medo de ser vítima de chacota. Duro, mas é a realidade.
O que mais lamento é o perfil de quem tomou a decisão. Se fosse uma pessoa que fizesse louvores à ditadura militar ou a regimes totalitários, seria compreensível. Se fosse alguém de perfil personalista, autoritário e cerceador da opinião alheia, eu até não ficaria nem um pouco espantado.
Agora, como explicar a medida tomada por uma pessoa que sempre teve envolvimento com os movimentos sociais, na luta contra o racismo, as minorias e assim que senta em uma cadeira com poder, ao invés de resguardar os direitos dos oprimidos (leia-se oposição) toma como mantra de vida a bandeira daqueles que não aceitam críticas e que desejam sufocar a liberdade de expressão? Se ele se intitula como uma pessoa progressista, de esquerda e democrática, o que ele vai dizer para aqueles que considerarem de que ele deseja sufocar a democracia no clube de história mais democrática do Brasil ao lado do Vasco da Gama?
Tagino assumiu com a missão de virar a página e construir um legado de tolerância, democracia e aceitação dos argumentos contrários. Começou marcando um golaço contra. Péssimo começo.
(análise feita por Elias Aredes Junior)