O cenário é de 1987.
Sala da presidência. O comandante era Marcos Garcia Costa, que assumiu após a gestão desastrosa de Carlos Vachiano. Mandato tampão até a escolha do novo presidente.
A Ponte Preta vivia uma situação financeira dramática. Não havia dinheiro. Fornecedores não recebiam e existiam dificuldades para pagar salário. Um cenário de terror.
Bilheteria não ajudava, o time não empolgava, tudo jogava contra.
Em um final de tarde, Marcos Garcia dialogava com Zé do Pito, então diretor social.
Pontepretano de quatro costados, cilinista fanático e dono de uma retórica imbatível. Sabia hipnotizar a todos. No Largo do Rosário ou no Salão Nobre.
– Não sei o que vai ser. O quadro está delicadíssimo – dizia inconformado o então presidente.
– Tem razão, precisamos fazer alguma coisa – concordava Zé do Pito, ou José Bertazolli.
De repente, um estalo, uma ideia luminosa. Arriscada. Louca. Podia dar certo.
– E se fizéssemos um show? Cobraríamos ingressos e com o lucro pagaríamos os fornecedores – divagou Marcos Garcia Costa.
– Ótima ideia. Tem que ser um nome de alcance nacional – complementou Zé do Pito, voz altiva, peito estufado e pronto para assumir a linha de frente.
– Já tenho um nome – fez mistério o presidente
– Quem?
– Xuxa! Um show para o dia das Crianças!
– Concordo.
Na teoria, não havia como dar errado. Xuxa Meneghel era a estrela dos programas infantis. Estava na Rede Globo e detonou uma febre entre as crianças.
Arrebatava multidões. Ganhava um salário milionário. Crianças choravam e se descabelavam só para ter um mísero contato com a Rainha dos Baixinhos. Só existia um problema: não havia meios de entrar em contato com o staff de Xuxa. Leia-se Marlene Mattos.
Nesta hora que entrou em campo Zé do Pito. Com sua falta de pudor (ou cara de pau, como você preferir), o pontepretano vestiu o melhor terno, pegou um ônibus Cometa na antiga Rodoviária e desembarcou no Rio de Janeiro. Alvo: Jardim Botânico, sede da Rede Globo. Sem marcar hora ou designar o assunto, Zé do Pito foi até Marlene Mattos e explicou o seu plano.
Até hoje está envolto em mistério os argumentos enumerados pelo comerciante para convencê-la a trazer Xuxa para o dia das crianças no estádio Moisés Lucarelli (observação: alguns leitores chamaram atenção de que o show foi no dia 07 de setembro. Fica o registro).
O fato é que conseguiu. Viabilizou ainda o sinal exigido para a assinatura do contrato. Como? Ao convencer um pontepretano de posses, conhecido por sua sovinice de que a necessidade era urgente. Não havia como adiar.
Deu certo. O Majestoso lotou, o dinheiro foi arrecadado, os fornecedores foram pagos e a partir do dia 01º de dezembro Lauro Moraes assumiu a presidência do clube.
No fundo, aquele show foi o único gol de placa naquele conturbado ano de 1987.
(texto de autoria de Elias Aredes Junior)