O presidente de honra Sérgio Carnielli quer porque quer a construção da Arena Ponte Preta. Diz que será um novo tempo para a melhoria das finanças do clube, especialmente com a viabilidade de obtenção de shows. Mas será que é isso mesmo? O ex-presidente está correto?
Como o assunto gera paixões exacerbadas de um lado ou de outro ( e faz até com que alguns internautas utilizem a estupidez como argumento político e de ideia), a reportagem do Só Dérbi resolveu ouvir dois especialistas em marketing esportivo e em política administrativa de clubes sobre o tema. E a opinião dos dois é unânime: o projeto de prever a construção de uma Arena para Shows pode representar um retrocesso para o clube.
Fernando Ferreira, proprietário da Pluri Consultoria, especialista em analisar finanças de clubes de futebol e de pesquisar negócios ao redor do mundo que gerem oportunidades às agremiações considera o projeto uma temeridade. “A história de Arena Multiuso que foi utilizada no período pré-copa, esse negócio não vingou no Brasil. Todas foram construídas com a justificativa de que seriam multiuso mas a única que vem sendo utilizada é o Allianz Parque e um pouco a Arena da Baixada em Curitiba. Eu não vejo nenhuma chance de sucesso na implantação de uma Arena Multiuso pela Ponte Preta em Campinas. Nenhuma. Eu acho que a cidade comportaria mas ela sofre do problema de ser muito próxima de São Paulo. Então os shows muito grandes e que tem um custo muito alto o cara não vai a Campinas. O cara vai a São Paulo porque ele sabe que o fã vai de Campinas até São Paulo, porque é a mesma conurbação urbana. Não acredito em Arena Multiuso porque o business cultural fora do futebol é pequeno. As pessoas pensam que é grande, mas não é. E o Brasil por conta da moeda desvalorizada ele tem um problema no momento que é fazer encontrar-se fora da rota dos grandes shows internacionais”, afirmou o empresário e consultor.
Ferreira considera entretanto que há chance de êxito se o modelo de negócio for alterado. “Uma Arena para a Ponte Preta pode ser viável por conta do futebol dependendo de como for feito. Os grandes exemplos que precisam ser mirados não são estádios sendo feitos no Brasil, que são caros e custosos. Clubes como Cerro Porteno e o Penarol são exemplos de clubes que tem um porte financeiro semelhante a Ponte Preta e que construíram seus estádios novos e estão muito bem obrigado. E foram construídos com capital próprio e custo baixo. O Brusque fará um estádio junto com a Havan e com custo baixo. Dá para fazer uma arena com custo baixo e com capacidade reduzida. Para a Ponte Preta, um estádio precisa contar com 25 mil lugares, não precisa mais do que isso”, arrematou.
Responsável pela condução da Sports Valeu e envolvido na análise das finanças dos clubes, Amir Somoggi é outro que considera um erro a Macaca envolver-se no processo de construção de uma arena multiuso e com meta para atrair shows. “É uma completa loucura. Não tem a menor condição. Todos os times que embarcaram no estádio e mesmo as arenas estão com prejuízo. A operação é deficitária porque não há o conceito de multiuso, grandes shows. Existe uma limitação de receita e o jogo é muito mal trabalhado e a torcida gasta pouco. O time está na Série B. Tem uma série de questões que inviabiliza a Ponte Preta erguer sozinha o estádio. Se o Santos não consegue, se o Corinthians está sangrando, o Grêmio e o Internacional não conseguem, porque na Ponte Preta vai dar certo?”, analisou Sommoggi.
Na sua visão, o caminho correto é concentrar fogo no estádio Moisés Lucarelli e nas suas potencialidades. “O modelo é melhorar o atual (estádio), com melhorias gradativas. O caminho é atrair patrocinadores que podem ajudar pois não há dinheiro para nada. Além disso, incrementar as ações de marketing para o torcedor e dando serviços ao torcedor. Ao olhar os números, acho bem difícil a Ponte Preta viabilizar um estádio com shows e eventos. O Botafogo de Ribeirão Preto, por exemplo, está investindo no seu estádio e com reformas mais baratas”, completou Somoggi.
O projeto defendido por Sérgio Carnielli prevê shows e a construção de um complexo hoteleiro.
(texto e reportagem: Elias Aredes Junior)