Falta de empatia, solidariedade e respeito. A triste história das demissões na Ponte Preta

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Vivemos em um país em crise econômica. Temos 13 milhões de desempregados. Empresas em dificuldades. A pobreza cresce a cada dia. A violência ganha contornos fortes na periferia. Nesta conjuntura os gestos falam mais alto. E nesta quinta-feira a diretoria da Ponte Preta marcou um gol contra. Aliás, talvez algo pior do que sentir o gosto do rebaixamento. Demitiu 17 pessoas. Chefes ou Arrimos de Familia. Gente que dedicou sua vida ao clube e entregou sua alma para que milhares e milhares de pessoas sonhem e tenham uma esperança de dias melhores ao sentarem na arquibancada de cimento do Majestoso.

O clube alega contenção de despesas. Argumento racional. Que neste momento não cola. Por um motivo: a Ponte Preta tem uma identidade histórica com os marginalizados. Com os pobres, negros, desvalidos e excluídos da sociedade. Se hoje a Ponte Preta está de pé não é por causa dos burgueses ou componentes da classe alta que sempre deram as cartas no clube. Que aliás, merecem homenagens por dedicarem seu tempo em prol do clube.

Só que não podemos perder de vista que a Ponte Preta está de pé por causa do seu povo. E hoje ao mirar o canhão da demissão para o elo mais frágil da corda, a diretoria executiva mostrou que a sensibilidade, o fator social, a empatia pelo próximo está longe de ser realidade. Quando existe solidariedade, todo o sacrifício é válido. Até na parte financeira.

Espero que a política não tenha entrado em campo. Seria inconcebível. Como já é absurdo quando pessoas são demitidas e ficam fragilizadas emocionalmente enquanto temos atletas com salários altos.

Demitir 17 pessoas é a consequência de erros de gestão. A conta é simples: se o elenco não fosse caro, se não fosse gasto dinheiro com salários de R$ 70 mil a R$ 80 mil mensais em atletas do quilate de Thalles ou Tiago Real, certamente esta medida não seria necessária.

Ou seja, mais do que crise econômica, a tragédia que se abateu nestas 17 familias tem nome e sobrenome: o presidente José Armando Abdalla Junior e toda sua diretoria que adotaram neste ano uma política salarial no futebol incompatível com a realidade do pais e do clube. Inclusive deve-se cobrar de dirigentes dissidentes como Sebastião Arcanjo, que como ex-sindicalista teria obrigação de se posicionar e lutar pela reversão desta medida.

Você pode argumentar se existe outra saída. Sim, existe. Seria mais digno promover uma grande faxina no elenco, reduzir os salários de todos e convocar uma entrevista coletiva para dizer em alto e bom som que por erros próprios de gestão a diretoria não acreditaria no acesso, mas prefere seguir o caminho de uma campanha digna e que deixasse a Macaca de pé. E com os empregos preservados. Especialmente de quem ganha menos.

Jornalista não pode deixar de exibir indignação. Tem que se posicionar. Especialmente quando o elo mais fraco é destruído e detonado em uma canetada.

A Ponte Preta pode até subir, Roger ser o artilheiro da competição e até conquistar o campeonato. Se para produzir tal efeito seja necessário provocar choro, ranger de dentes e sofrimento em quem não tem saída, toda a estratégia é apenas e tão somente uma tentativa vã de felicidade pifia com sacrificio alheio. Futebol é sinônimo de alegria, jamais para gerar sofrimento. Que os homens dos gabinetes aprendam.

(Elias Aredes Junior)