Fumagalli: um ídolo bugrino que desperta paixão, ódio e irracionalidade. Até quando?

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Milito no jornalismo há 23 anos. Já experimentei todas as editorias possíveis e o esporte, não nego, é a minha preferência. Nestes anos de labuta jamais vi um jogador despertar tanta paixão, ódio e irracionalidade do que Fumagalli. O camisa 10 do Guarani, 39 anos, apesar de todos os seus feitos ainda desperta reações diversas.

Os números são inquestionáveis. Em 283 jogos são 88 gols. Está empatado com uma lenda chamada Jorge Mendonça. Foi protagonista no vice-campeonato paulista de 2012 e no vice-campeonato da Série C em 2016. Está na história do Guarani. Fato.

Além das conquistas, existe um outro motivo que explica a idolatria, a sua presença nos tempos de vacas magras, nas estadias frustrantes da terceirona nacional de 2013 a 2016 e na Série A-2, em que o Guarani encontra-se desde 2014.

Guardadas as devidas proporções, seu simbolismo equivale a Roberto Dias, zagueiro atuante no São Paulo durante o processo de construção do Morumbi na década de 1960. Só um repórter injusto e ausente de critérios poderia esquecer destes fatos. Tanto que na vitória sobre o ABC por 6 a 0, válido pelas semifinais da terceirona, Fumagalli ganhou uma nota 10 de minha autoria, tanto no Só Dérbi como também na Rádio Central. Atuações especiais merecem avaliações justas e destacadas.

Todo este portifólio, entretanto, não pode servir de passarela para introduzir uma “censura informal” em relação a criticas a Fumagalli. Nos meios de comunicação, arquibancadas e redes sociais é praticamente proibido enumerar fatores que parecem óbvios: o camisa 10 não tem o vigor físico de antigamente e automaticamente não pode executar funções inerentes a um meio-campista moderno, como marcar, fechar os espaços do adversários e vez ou outra pegar uma bola para arrancar com a bola dominada. Queiramos ou não, na parte tática, atrapalha sim o andamento do modelo de jogo.

Fumagalli compensa sendo decisivo em conclusões a gol, nas cobranças de pênalti e na liderança de vestiário. É de se elogiar. Entretanto, se levarmos em conta a conjuntura do futebol atual, no que depender da circunstância do jogo pode ser pouco.

Faço a seguinte reflexão: se Luiz Fernando exibisse estabilidade no gramado, com atuações regulares e decisivas, algo impedido porque ainda encontra-se em readaptação em virtude de uma cirurgia no joelho, será que Fumagalli seria imprescindível ? E se jogadores como Eliandro e Rafael Silva estivessem prontos para marcarem gols e decidirem jogos? Será que Fumagalli continuaria sendo utilizado da mesma forma? O Guarani está no G-4, mas será que um esquema de jogo mais compacto, veloz não estaria em posição ainda melhor?Pense, reflita e tire suas próprias conclusões.

Oentrave principal atua nem seja tais empecilhos táticos em relação a Fumagalli e sim a resistência de se discutir o problema no mundo esportivo campineiro.

O camisa 10 bugrino é líder, cara legal, acrescentou muito ao clube, mas é humano e assim como qualquer um de nós tem virtudes, defeitos, vitórias, fracassos e conflitos internos.

Por que é proibido refletir sobre sua utilização na equipe? Por que esse ódio exacerbado, que beira até a violência verbal e física contra aqueles que desejam apenas pensar e raciocinar sobre aquilo que é melhor para o Guarani? Ou Fumagalli é maior do que o Guarani? Não é.

Talvez o cenário com Fumagalli exemplifique um defeito presente na vida cotidiana do Guarani nos últimos 20 anos: a resistência em querer discutir seus obstáculos, a fissura em viver um conto de fadas paralelo, em que todos são perfeitos e as derrotas são creditados ao acaso ou a “teorias da conspiração”.

Reforço: Fumagalli é uma figura fundamental na vida e na história do Guarani. Só que não é Deus. Não é infalível. Merece homenagens, mas também a clareza de que hoje tem limites físicos e o time tem objetivos. E seus limites não podem atrapalhar os objetivos.  Ajudar sempre, atrapalhar nunca. Algo que um dia será compreendido pelos hater´s de plantão.

(análise feita por Elias Aredes Junior)