O futebol campineiro disse adeus ao Campeonato Paulista. Ponte Preta e Guarani miram suas forças para a Série C do Campeonato Brasileiro. Quem for acompanhar este texto poderá achar que o jornalista está otimista em excesso ou quer viver no mundo de Nárnia. Nada disso.
Ser resultadista é uma pronta armadilha para produzir análises equivocadas e distorcidas. O correto é analisar em curto, médio e longo prazo.
Vamos começar pela Ponte Preta. Podemos dizer que a Macaca foi eliminada pelo regulamento, pois somou 22 pontos em 12 jogos. Injusto. Pegue as últimas duas edições do torneio regional e você chegará a conclusão de que o crescimento na pontuação é notável. Nas duas últimas edições foram 39 pontos em 24 partidas. Com João Brigatti como treinador, a equipe tinha aptidão para agredir e tinha uma defesa segura com três zagueiros. Sob o comando de Alberto Valentim, observamos uma equipe bem posicionada e capaz de produzir algumas surpresas saborosas. Primeiro o atacante Jean Silva, já incluído na história do Dérbi ao ser o protagonista no triunfo por 2 a 0. Veteranos como Danilo Barcelos e Artur deram cadência, malícia, balanço e qualidade no meio-campo e na defesa. Léo Oliveira foi um achado. Capaz de desempenhar múltiplas funções e com invejável preparo físico.
O que está bom pode melhorar com os retornos do armador Elvis e do centroavante Jeh. A eliminação foi doída, dolorosa, mas o saldo positivo não pode ser esquecido. Assim como os defeitos a serem amenizados. Alberto Valentim precisa encontrar fórmulas para a equipe ser capaz de amassar seus oponentes do estádio Moisés Lucarelli. Os números falam: dos 22 pontos acumulados, seis foram registrados no Majestoso. Os empates contra Santos, Botafogo e Portuguesa fizeram falta. As derrotas para Corinthians e Red Bull Bragantino comprovam que o abismo financeiro ainda é uma barreira para a plenitude. Não é hora de desespero e sim de elogiar os avanços, corrigir os defeitos e fazer jus a expectativa depositada. A eliminação não apaga um conceito fundamental: a Ponte Preta tem time para brigar no bloco de cima da classificação da Série C.
E o Guarani? O empate arrancado diante do Corinthians, em plena Arena Itaquera deixou a equipe com 13 pontos. O gol sofrido para o Velo Clube e a igualdade contra o Novorizontino tiveram gosto amargo. Uma simples vitória e a classificação seria realidade.
Classificação que seria obtida com uma equipe limitada na parte técnica. Que brilhou com a graças a alguns fatores: o bom trabalho do técnico Mauricio Souza, a qualidade de Nathan na marcação, a velocidade de João Victor e o talento bruto do centroavante João Marcelo. Isto foi suficiente para conseguir a manutenção no Paulistão, mas não existe certeza a respeito da Série C. Reforços serão necessários. E o Conselho de Administração terá que se virar nos 30 para conseguir os recursos.
Os entraves da equipe não impedem de vislumbrar o seguinte: a perspectiva deixada por este time é infinitamente melhor do que aquela exibida pela equipe do ano passado por André Marconatto, Ricardo Moisés e Juliano Camargo. Quando o Guarani venceu o Red Bull Bragantino no ano passado e escapou da degola, com 10 pontos, a felicidade foi efêmera. Qualquer torcedor sabia que aquela equipe não resistiria a Série B. Deu no que deu: lanterna na maior parte das rodadas.
Hoje, se não existe horizonte de acesso, não dá para esconder as qualidades existentes mesmo em uma equipe limitada: dedicação, raça, superação, obediência tática e interesse em defender o Guarani. Sim, é preciso mais. Muito mais. Isso não esconde a evolução registrada.
Ficar fora da parte principal da festa é dolorido. Cada um com sua história, Ponte Preta e Guarani mostraram que quando existe esforço, planejamento e inexistência da vaidade dá para pensar pelo menos em dignidade e honra de duas camisas centenárias. Já é algo para quem não tinha nada até um passado recente. Que a Série C traga boas notícias. Os torcedores bugrinos e pontepretanos merecem.
(Artigo escrito por Elias Aredes Junior-Foto de Alexandre Battibugli-Agência Paulistão)