Guarani e a lição de vida: nem tudo é aquilo que parece ser!

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O Guarani está em crise. Profunda. No gramado e nos bastidores. Dirigentes são contestados. Outros são demitidos e não fazem questão de esconder mágoas e ressentimentos. Neste meio tempo, torcedores e jornalistas iniciam a seguinte discussão: quem tem razão? Quem é vilão? Quem é o mocinho? Ou ninguém vale um tostão furado.

Quem saiu é acusado de tratar mal subordinados. Quem ficou no Brinco de Ouro tem a alcunha de ocupar um lugar que não lhe é direito. Afinal, quando era integrante da equipe de dirigentes estatutários do Guarani não teve conquistas relevantes. Decepção era o nome, frustração esportiva o sobrenome.

Sou aconselhado a não tomar partido para lado nenhum. Que ninguém é santo nesta história. Um cabo de guerra sem fim, em que boa parte da imprensa da cidade abraça um cômodo silêncio. Alguns escolhem seu lado. Por ressentimentos pessoais ou por por entender a necessidade de alertar quem pode ser mais danoso. Apesar do outro lado pecar por falhas de gestão ou tratamento. Que é negado pelo acusado.

Ninguém está salvo do erro. Do equivoco. Nem quem escolheu um lado ou até quem prefere ficar distante. A vida é conflitante, sem nexo e por vezes não sabemos distinguir quem é quem.

A ficção dá sinais. Em 2008, ávida por índices de audiência robustos, a Rede Globo lançou a novela “A Favorita”, estrelada por Patrícia Pillar e Cláudia Raia. A proposta era inovadora: até determinado número de capítulos, ninguém saberia distinguir quem era vilã ou mocinha.

O mote central era um assassinado, que gerou a prisão de Flora, personagem de Patrícia Pilar. Donatella, ex-amiga e antagonista, tinha o perfil da clássica vilã: grossa, estupida, mal educada, sem trato com os funcionários e incapaz de estender um sorriso para qualquer pessoa que não fosse sua filha adotiva, interpretada por Mariana Ximenes. Flora, por sua vez, era a doçura em pessoa. A voz baixa, os gestos contidos, a indignação travada na garganta davam todas as pistas de que ela era a vilâ, o bode expiatório perfeito.

Eis que passado alguns capitulos, João Emanuel Carneiro dá o pulo do gato ao revelar que a doce Flora era a antagonista da história. Donatella, a grosseira, com o passar da história revelou-se uma pessoa de modos antiquados, até sem capacidade de tratar os subordinados com finesse, mas o essencial estava lá: a busca de conduzir os processos do modo correto.

Puxei este raciocínio para dizer o básico: é inútil fazer julgamentos de quem está certo ou errado nesta batalha presente no estádio Brinco de Ouro. Ninguém, absolutamente ninguém conhece profundamente o outro.

Nem parentes.

Temos Aurora Boreal na nossa alma. Mas temos o lado sombrio, pronto a se manifestar nas mais diversas cirscuntâncias. Por vezes, uma resposta atravessado um tratamento inadequada é apenas o reflexo da incapacidade de se comunicar com próximo. Algo presente em um futebol cada vez mais mimado e com regras que só valem quando eu quero cumpri-las. E é verdade que mãos adocicadas e macias, envoltas em perfumes aromáticos inebriantes podem ser uma armadilha para um caminho de tristeza e sofreguidão.

No Guarani, na sua casa, trabalho, escola, faculdade ou na praça pública. Nem tudo é o que parece ser. Nem sempre uma história é justa ao condenar uns e absolver outros. Nem você, que esteve envolvido com um lado ou do outro pode dizer que conhece profundamente os comportamentos dos personagens para cravar que este é o vilâo do Guarani. Ou o mocinho. Talvez, no afã de procurar culpados, você esqueça do básico: neste trilher de cinema trash chamado o futebol profissional do Guarani o vilão é mais ardiloso do que você pensa e atende por um nome: vaidade. Esse ninguém quer derrotar. 

(Elias Aredes Junior-Foto de Thomaz Marostegan-Guaranipress)