Guarani e o esquema tático Chuck Norris: tiro, bomba e pancada. Só assim para triunfar na Série C

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Todo mundo um dia foi criança. Fez birra. Não aceitou a sugestão da mãe ou do paí. Sabe aquele remédio amargo? Sim, aquele que deixa um gosto insuportável na boca e que era necessário ingerir antes da sobremesa ou de uma comida gostosa? Não era incomum você fugir do líquido, cuspir ou tentar alguma artimanha para pular etapas e degustar aquilo que interessa. Chega a fase adulta e entre atitudes maduras ou tropeços adultos, você faz o mesmo. Não quer encarar as etapas mais difíceis antes do prêmio supremo. É como ir na academia, ficar sentado no aparelho, não utilizar a esteira e depois ir cheio de graça tomar um banho gostoso e refrescante. Hoje, você quer enganar a si.

O futebol imita a vida. Frase batida, sem nexo ou validade para muitos. Mas vale. Neste domingo, o Guarani arrancou um empate por 1 a 1 com o Londrina. Um jogo feio, sem brilho, com força física, marcação e muita bola pelo alto. Um gramado horrível, em péssimas condições. Tremendas dificuldades para jogadores técnicos como Diego Torres, que bem ou mal, só apareceu nas jogadas de bola parada, como no gol de Raphael Rodrigues. A bola quicava, batia na canela, no joelho e não evoluia. O torcedor bugrino não via a hora do jogo acabar para comemorar um ponto precioso e deixar no passado a péssima recordação do que foi vivido em Londrina.

Eu queria dar uma péssima notícia: o pesadelo pode voltar. O Londrina está nas primeiras posições e tem grandes chances de ficar no grupo de classificação. Se o Guarani conseguir a vaga, não é descartável a hipótese de pegar o Londrina em um dos grupos dos quadrangulares decisivos.

Além disso, o Guarani ainda viverá o pesadelo de atuar em outros gramados em condições inadequadas. O Brinco de Ouro, com seu piso que parece um tapete, é a exceção que confirma a regra.

Talvez a péssima largada do Guarani tenha sido realidade por este motivo. Achava que estava em outro campeonato. Um torneio que prevaleça o toque, a técnica, a beleza plástico. Esqueça disso. Na Série C, um carrinho de Matheus Sarará tem mais valor em alguns lances do que um lançamento de Diego Torres. Uma bola tirada no sufoco por Allyson tem maior valor do que um arranque de Cicinho.

É triste? Concordo. Mas para usufruir das benesses da Série B, de suas 38 partidas e de suas cotas de televisão mais polpudas, é preciso viver a Série C com intensidade. Contar com jogadores que coloquem a bola dentro do gol, mas que saibam em determinados lances exercer o papel de Chuck Norris com chuteiras. Ou seja, tiro, bomba e pancada. Não é bonito. Nem um pouco. Mas prefiro mil vezes assistir a um futebol tosco que abocanhe um das quatro vagas na Bezona do que jogar bonito eternamente em uma competição que, no fundo, no fundo, para o mundo do futebol, é como oxigênio: todo mundo sabe que existe. Mas ninguém vê.

(Elias Aredes Junior- Rafael Martins / Londrina Esporte Clube)