A década de 1980 foi marcada por um instante música popular brasileira. Foi a explosão de várias bandas de rock. Pelo menos nas emissoras de rádio deixamos de ser uma República de bananas. Tínhamos o privilégio de cantar os nossos problemas e mazelas.
Os haters ainda não davam as caras, a internet era um projeto distante e com isso todos podiam deixar os seus recados.
Uma das músicas que combinavam com aquele período recém-saído do autoritarismo e do regime da falta de liberdade de opinião era “Toda forma de poder”, de autoria dos Engenheiros do Hawai. No final da noite de domingo eis que recordava aquela canção e remeti ao atual momento do Guarani. Como? De que forma? Calma, vou explicar.
Quando falamos de um clube de futebol, a associação é em relação a tudo que está envolvido: a torcida, os dirigentes, os jogadores e seus respectivos comportamentos. Temos um quadro insólito na atualidade: de um lado, o torcedor bugrino triste, amargurado, desesperado, sem rumo e a procura de uma esperança que dê sentido para acreditar que em 2026 não será o tempo de disputar pela primeira vez em sua história a quarta divisão do futebol.
Do outro lado, todas as instâncias de poder do Guarani, desde o Conselho de Administração, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal, conselheiros e qualquer um que tenha cargo no clube, que abordam nos bastidores e em público temas sem relação com aquilo que envolve a bola. É reforma de estatuto para lá, busca de SAF para cá, lançamento de camisa oficial acolá, patrocinador apresentado, podcast oficial veiculado… E a bola? A campanha na Série C? E a montagem de equipe? Nada.
Parece que falam de outro clube, de uma instituição diferente. As entrevistas com alguns veículos transcorrem em clima de boteco, sem cobranças ou explicações. Neste cenário, é inevitável associar ao verso da música dos Engenheiros: “Eu presto atenção no que eles dizem, Mas eles não dizem nada”.Sim porque a raiva, o ódio surge da incompreensão. Tenho certeza de que o torcedor pensa o seguinte: “Mas o que ele está dizendo? Por que não diz tão pouco sobre o quadro?”. Pois é. “Eu presto atenção no que eles dizem. Mas eles não dizem nada”.
Mas não termina nisso. A música feita em plenos anos 1980 tem outro verso que é a tradução do que o torcedor bugrino vive em 2025. O trecho diz: Se tudo passa, talvez você passe por aqui/ E me faça esquecer tudo que eu vi/Se tudo passa, talvez você passe por aqui/ E me faça esquecer.
O que isso quer dizer? Simples: a fissura em arregimentar um investidor para a Sociedade Anônima do Futebol não é apenas pelo desejo de ver o Guarani em altas posições do futebol brasileiro. Não é só isso. Os dirigentes apostam na SAF como um elixir do esquecimento em relação às humilhações dos últimos anos, como a última colocação na Série B de 2024. Ou os turnos de péssimos turnos de rendimentos registrados na Série B de 2017 a 2023. E aí, os presidentes destas ocasiões, Palmeron Mendes Filho e Ricardo Moisés não foram esquecidos. Como não foram ignorados quem presenteou o Guarani com outros 10 rebaixamentos neste Século 21.
O gramado é reflexo do que ocorre nos bastidores. Jogadores só dão caneladas porque alguém contratou. Ou autorizou contratar. Dirigentes que não lutaram junto ao poder judiciário para ampliar as receitas para este ano.
Empate sem gols contra o Floresta? Dizer o que? Que todos prestamos atenção no que os engravatados do Brinco de Ouro. Mas, no fundo, o que eles, integrantes do Conselho de Administração, dizem é equivalente ao futebol apresentado dentro do gramado: nulo.
(Elias Aredes Junior-Com foto de Raphael Silvestre-Guarani F.C)














