Guarani, nova arena e uma pergunta: a construção será feita para abraçar todos os bugrinos? Leia e entenda

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Li atentamente o pré projeto que será analisado no Guarani no próximo dia 15 de setembro. A construção de um estádio, sede social e um centro de treinamento, todos reunidos no terreno pertencente a agremiação na rodovia dos Bandeirantes.

Apesar das declarações de dirigentes e de integrantes do Conselho Deliberativo, é inegável que fica a sensação de afago e de agrado ao empresário Roberto Graziano. Afinal, na sentença emitida pela juíza Ana Cláudia Torres Viana o empresário ficaria responsável pela construção dos locais .

Fica a sensação de que o caminho foi encurtado. Mesmo que ele tenha obrigação de investir mais.

Pode ser que tenha sido abordado nos encontros prévios feitos pelo Conselho Deliberativo.

E eu talvez não tenha prestado atenção. É do jogo. Mesmo assim, eu vejo defensores do projeto enalteceram a arquitetura, o espaço, a montagem de uma nova arena e esquecem do principal: quem irá frequentar? Como chegar lá? Não é pouca coisa. Especialmente quando falamos de Guarani.

Nas ultimas duas décadas, o sofrimento produziu um fenômeno: graças a mobilização da Fúria Independente (é, isso mesmo que você leu) e aos resultados que davam uma sensação plena de redenção, a torcida do Guarani ficou popular. Fincou espaço em todos os cantos. Tem bugrino na região do Ouro Verde, Dic, Campo Grande, em todo lugar.

Gente trabalhadora e que tinha um ritual. Saia do serviço, geralmente no centro da cidade e ao bater o ponto já se dirigia direto ao Brinco de Ouro. Quantas vezes ao caminhar pela avenida Moraes Sales, por volta das 18h ou 18h30 eu presenciava centenas, milhares de torcedores que caminhavam em direção ao estádio. A pé.

Com o encerramento do jogo, esta galera se dirigia aos pontos de ônibus localizados nas proximidades do estádio. Ou para o Terminal Central. Gente que ia com o dinheiro contado.

Agora, esses mesmo torcedor, quando o estádio estiver pronto terá que reservar dinheiro para passagem para pegar um ônibus ao novo estádio e depois na volta rezar para que tenha transporte coletivo na volta.

Não, não resolve dizer que isso não é problema. Que a prefeitura vai resolver em um piscar de olhos. É uma mudança drástica na rotina .

Especificamente o de baixa renda. Repito: o tema pode ter sido abordado. Se a resposta for afirmativa, faltou mais força na divulgação.

Se estivéssemos nas décadas de 1980 e 1990, até concordaria em construir estes equipamentos nos locais em que estão. O Guarani era uma torcida majoritariamente de classe média e que tinha o automóvel como transporte preferencial. Mas 2021 não é 1990.

O mundo mudou. O perfil social da torcida bugrina foi alterado. Mas para quem vê do lado externo parece que esta não é uma preocupação de quem conduz o processo.

Um estádio para gerar empatia precisa produzir sentimento de pertencimento. De posse. E sem pensar e planejar em incluir todos, não há projeto que prospere.

(Elias Aredes Junior-foto-projeto reprodução)