Somos um povo que gostamos de personalidades fortes. Talvez por isso o parlamentarismo não tenha emplacado por aqui. O culto à personalidade, os rompantes por vezes destemidos e resvalados na autoridade fazem a alegria de muitos. Do eleitor que vota para presidente, governador e prefeito. Do torcedor e detentor de título de sócio e autorizado a escolher o presidente. Por vezes esta personalidade é decisiva para formar os rumos de um time que gravita em torno de uma comunidade.
De uma certa forma, entre erros, equívocos e acertos, Campinas vive uma realidade retratada nesta ideia colocada acima. Ponte Preta e Guarani desfrutam de instantes bem distintos, em termos de divisão e realidade financeira. Porém, Horley Senna e Vanderlei Pereira, de certa forma carimbaram seus estilos na obtenção de resultados.
Gestão bugrina em instante dramático
O atual presidente bugrino assumiu em um instante dramático. Esfacelado politicamente e destruído na parte financeira, o Guarani parecia condenado ao ostracismo. Formado na escola política do atual vereador Cid Ferreira, o atual mandatário bugrino incutiu na cabeça que apenas o arrojo, a audácia poderia tirar o Guarani do buraco. Nestes rompantes cometeu erros crassos, como a de proibir a entrada das rádios Central e CBN e do jornal Tododia e seus respectivos profissionais nas dependências do Brinco de Ouro.
Senna gastava energia com aquilo que não angariava legado nenhum e pior: construía uma antipatia em outros locais conhecedores do processo de censura branca. Conduzia um processo junto a Justiça Trabalhista para defender um acordo com a Magnum. Sabia que existia um obstáculo, a pretensão da Maxxion, que arrematou todo o complexo do estádio em um leilão conduzido pela Justiça Trabalhista. De um jeito atrapalhado e por vezes até prolixo, iniciou uma romaria nos gabinetes de juízes do trabalho. Falava, falava, pregava, exibia dados e buscava de todas as formas construir um cenário que convencesse a juíza Ana Cláudia Torres Viana de que não existia outra saída senão o rompimento com a Maxxion e a afirmação de um acordo com a Magnum.
Acordo na Justiça do Trabalho
Queiramos ou não, a estratégia deu certo. Hoje o Guarani vai entregar o estádio sim, mas mediante a construção de uma arena, CT, área social e aporte mensal de R$ 350 mil mensais. Em relação a imprensa, trocou uma truculência por um diálogo rispido, mas voltado as tradições democráticas e a liberdade de expressão. O seu verdadeiro legado só saberemos daqui alguns anos. Algo Senna pode gargantear: nos últimos 16 anos, é o primeiro presidente que deverá sair do cargo sem colaboração direta ou indireta em um rebaixamento. Repito: sua herança e efeitos de suas medidas só saberemos daqui alguns anos. Às vezes a ousadia de hoje pode revelar-se um desastre no amanhã. Ou produzir um fruto bem menor daquele imaginado. Queiramos ou não, sua ousadia de curtíssimo prazo produziu um acesso que de modo racional não deveria encontrar-se no roteiro de uma equipe com tantas dificuldades financeiras.
Vanderlei Pereira: a prudência como aliada
E Vanderlei Pereira? Se pudéssemos definir o dirigente pontepretano em poucas palavras, prudencia, cautela e discrição estariam presentes. Homem leal ao presidente Sérgio Carnielli, foi o homem forte das finanças. No comando do barco da alvinegra, não comete loucuras. Cumpre o orçamento de maneira restrita e banca a formação de um elenco focado na competitividade. Nada de constelação de estrelas. Percebam o processo conduzido pela sua diretoria na negociação com Renato Cajá. Fez uma operação, formulou uma proposta final e apresentou ao jogador. Nada de leilão. Esqueça estourar o orçamento. Tudo é na conta do chá.
De certa forma, a campanha da Ponte Preta reflete o estilo de seu presidente. Com 45 pontos e na décima colocação, o desempenho fez a Macaca nunca flertar com o rebaixamento. Não patrocinou contratações bombásticas como em 2013 para tapar buraco e suprir deficiências. Apesar das deficiências da zaga.
Falta ambição? Criatividade?
Qual o problema? A racionalidade de Vanderlei Pereira é confundida com falta de ambição e ousadia. Por que? O torcedor acredita de que a Ponte Preta precisa subir de patamar no futebol brasileiro. Quer disputar Copa Libertadores, lutar por títulos no Campeonato Paulista, Copa do Brasil e da Sul-Americana. Como bancar tal sonho se a Alvinegra tem cota anual de R$ 28 milhões enquanto que os quatro semifinalistas da Copa do Brasil (Grêmio, Internacional, Cruzeiro e Atlético Mineiro) levam para casa R$ 60 milhões cada um?
A desigualdade de renda do futebol brasileiro aumenta o tamanho do caminho do sucesso para a Ponte Preta. Poderia utilizar criatividade para suprir deficiências. Nada disso. Vanderlei Pereira coloca o pé no chão. Pensa primeiramente em sobrevivência saudável e que a luta por titulos será uma consequência de um trabalho bem feito em longo prazo. E neste cabo de guerra entre gabinetes e arquibancada a Macaca toca o barco.
Indagações ficam no ar: a torcida saberá reconhecer o esforço deste trabalho? Um arroubo populista será suficiente para levar a Alvinegra aos instantes de glória? Não poderia inviabilizar o clube financeiramente?
Horley Senna e Vanderlei Pereira. Dois estilos distintos de administração com capacidade de gerar polêmica e discussões. Quanto aos resultados, o julgamento fica com o torcedor no presente e para a história a ser contada no futuro.
(análise feita por Elias Aredes Junior)