Informação na Ponte Preta tem que ser livre e para todos

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A Ponte Preta tem uma vantagem inquestionável para a partida decisiva contra o XV de Piracicaba. Pode perder por até dois gols que mesmo assim assegura vaga na Série A-1 do ano que vem. E se durante todo o campeonato o segredo fez parte dos muros do estádio Moisés Lucarelli, agora a questão ganhou contornos radicais.

A meta é fazer até que James Bond com seus apetrechos e parafernalhas não consiga penetrar no fortim da alvinegra. Nada de escalação, nada de entrevistas exclusivas, nada de conversas com a torcida. Todos calados e fechados. A antipatia é o cartão de visitas.

Em primeiro momento dá para compreender o excessivo cuidado. Não se pode deixar escapar nenhum detalhe e de quebra é preciso dificultar o trabalho do X-9 que transmite informações aos jornalistas (detalhe: jornalistas cumprem o seu papel. Ponto). A torcida, por sua vez, aceita e acha até salutar tal comportamento. Vale tudo pelo acesso.

Dizer que compreende a situação não quer dizer que eu aceite. O cerco promovido nesta semana, a ausência de informações para os jornalistas que cobrem o XV e a Ponte Preta mostram um fenômeno  maior: o distanciamento do mundo do futebol brasileiro com jornalistas e torcedores.

De um lado, temos o mundo da bola, dotado de uma vaidade absurda e que olha os jornalistas de cima para baixo. Como se eles, por acompanharem os trabalhos diários, são dotados de super poderes e de uma força divina, acima do bem e do mal.

São seres especiais eleitos.

A desculpa? Sempre que não podem conversar e atender os jornalistas para não passar segredos aos adversários. No fundo, no fundo, não corresponde a verdade. A verdade é que em todos os clubes pegam dois ou três reporteres que fazem um trabalho ruim e marginalizam todos. Querem uma prova? Repórteres ficarem esperando duas horas após o jogo para dar uma entrevista ao técnico do São Paulo, Rogério Ceni é um absurdo. Então, o comportamento não está na Ponte Preta ou no XV. Está em todos os clubes.

Se técnicos e jogadores de futebol são seres divinos, que não merecem contestação ou criticas, o que dizer dos médicos que combateram a Covid? Será que o trabalho exercido por qualquer médico que está em uma UTI é inferior a de um técnico de futebol ou dirigente ou jogador? Não, não é. 

Antigamente era diferente. Peguei a fase final do processo. O futebol brasileiro era humanizado. Repórteres conviviam e conversavam com jogadores, dirigentes e técnicos. Os treinos eram acompanhados de maneira pormenorizada e isso era positivo aos treinadores. Como sabiam que as informações eram abertas, existia a necessidade de aprimorar-se mais e mais. Hoje tudo é fechado e de certa forma gera um comodismo. Afinal, se ninguém sabe o que vou fazer, logicamente não preciso nem me preocupar se for surpreendido. “No intervalo eu conserto”, diz a pessoa.

Brincar de James Bond não tem graça nenhuma. Estabelecer segredo como norma de conduta e eleger jornalistas como inimigos não acrescenta em nada ao debate.

A torcida pontepretana merece muito esse acesso. Vai fazer a festa e de forma merecida. No caso de Hélio dos Anjos, da sua comissão técnica e dos jogadores todos merecem parabéns. Fazem até aqui um trabalho impecável, profissional e honesto. Isso não quer dizer que sejam deuses, seres infalíveis e que não cometam falhas. Jornalistas, torcida, dirigentes, jogadores, técnicos, preparadores físicos, fisioterapeutas são peças de um mosaico que forma o futebol e a especificamente a Ponte Preta. O sentido coletivo também tem a necessidade de ser seguido por transparência. 

E todas essas pessoas tem o direito de falar, opinar, se expressar e conseguir acesso às informações. Sem ninguém se encontrar no pedestal. Ou como diz o livro de Efésios no capitulo 4 e no versículo 2: “Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor”. Esse é o camisa 10 que precisa ser contratado pelo futebol brasileiro. E também pela Ponte Preta. Que venha o acesso. E que o futuro seja mais doce. 

(Artigo de Elias Aredes Junior com foto de Diego Almeida-Pontepress)