João Saldanha: como um gênio da Crônica Esportiva brasileira descreveu o título bugrino de 1978

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Na opinião do autor deste trecho e componente da equipe Só Dérbi, João Saldanha é um dos cinco melhores jornalistas esportivos de todos os tempos ao lado de Nelson Rodrigues, Mário Filho (criador do Jornal dos Sports), Armando Nogueira e Osmar Santos, pela revolução que promoveu no rádio.

Na minha pesquisa sobre o título bugrino de 1978 encontrei esta crônica de Saldanha feita para o Jornal do Brasil um dia após a final.

A crônica exibe um futebol brasileiro que não existe mais. Tanto que Saldanha, pertencente a um jornal carioca presenciou ao vivo a decisão no interior de São Paulo. Confira estes e outros detalhes no texto abaixo:

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O legitimo Campeão

O Guarani entrou em campo em cima da hora, às 16h, e deu a voltinha de sempre, por detrás da baliza. Todos os jogadores passam a mão no chão. O Palmeiras entrou cinco minutos depois. Na hora certa, só o juiz. Assim, o atraso característico brasileiro de 15 minutos, por causa das entrevistas. Como estava frio, o aquecimento foi para o vinagre. A fotografia do time do Palmeiras demorou.

O Palmeiras, aos três minutos perdeu gol feito, com a defesa do Guarani assistindo ao lance. José Roberto Wright mostrou logo de cara disposição de apitar tudo. O pessoal do Guarani dormiu no hotel em que estavamos e o time estava calmo- mas os poucos torcedores que lá aparecerem estavam visivelmente nervosos. Pela cidade se podia notar apreensão.

No campo, começou bem calmo e todas as faltas continuavam a ser apitadas. Qualquer faltinha , que até poderia ser relevada, não o era. Certa esta política. Os jogos anteriores indicavam isto.

O Palmeiras saiu imprensando, mas o Guarani respondeu bem, mostrando que não seria defensivo e as avançadas do Miranda eram bem agressivas e o Edson também se soltava com coragem. O Palmeiras calmo, e o jogo bom.

Uma grande jogada de Rosemiro e Jorge Mendonça perdeu de bandeja. Mas o Guarani, sempre com espirito ofensivo- salvo seja e que assim continue – ia sempre bem pelas pontas. Bozo fez grande jogada e o excelente careca fez o gol, contrapé do goleiro. Chute inteligente, que matou o goleiro Gilmar.

O Palmeiras também jogava bem na partida bonita. O diabo é que, com o gol de Careca, passou a precisar de três.

José Roberto Wright fez uma advertência incomum: ao gândula, por retenção de bola. Em seguida, mandou trocar o menino que estava atrás do gol pelo do meio de campo.

O Palmeiras foi todo para a frente e o Guarani, abrigado pela lei do impedimento, ficou no contra-ataque. O jogo tornou-se sensacional, com a eminência de gol a toda hora. Se os ataques do Palmeiras eram perigosos, mais ainda os do Guarani. Bom o goleiro do Palmeiras. No Guarani, o bom todo mundo. Mas Mauro, Zé Carlos, Miranda, Careca e Renato se sobressaíram. Notável foi o permanente espirito coletivo do time de Campinas. Nos tempos atuais, edificante e emocionante.

Como jogam bem os cobras brasileiros quando não aparece a brutalidade no campo de jogo. Grande jogo, Grande árbitro. Guarani, o legitimo campeão!”

(artigo escrito por João Saldanha na página 2 do Caderno de Esportes do Jornal do Brasil de 14 de agosto de 1978)