A Ponte Preta foi desclassificada na Copa do Brasil. Atuação péssima contra o Criciuma. Derrota merecida nos pênaltis. Conclusão obvia: a culpa do técnico Fábio Moreno.
Em emissoras de rádio, redes sociais, o comandante é massacrado. Ele errou? Sim. Não trabalhou bem? Concordo. Sua condenação, porém, é o pano de fundo que algo mais profundo.
Muitos consideram que demitir o técnico é a solução. Apesar do time limitado. Do orçamento curto. Triste conclusão: somos sócios do caos. Afirmamos em alto e bom que demitir treinador é da cultura. No fundo, somos covardes. Todos. Temos medo de experimentar o novo. De mudar.
O resultado é negativo, a fase é irregular, mas apostar na velha fórmula é cômodo para todo mundo.
Vou repetir: todo mundo.
Para os jogadores nada melhor e confortável do que ver o antigo comandante ir ao departamento de Recursos Humanos do Majestoso e assinar a sua carteira de trabalho. Um condenado e 30 absolvidos. Se não gostarem do próximo treinador não serão cobrados. Vão falar: “É a cultura do futebol”. Uma cultura que propaga ignorância, incompetência e falta de bom senso. Acham correto. Não sei para quem.
Cômodo para os dirigentes. Manda-se embora e o cartola é isento de qualquer fracasso. Afinal, ele fez algo para mudar não é mesmo!? Nem a oposição escapa: poderá pregar as 24 horas do dia que está tudo errado, não é feito de maneira correta e danem-se os processos, o trabalho de longo prazo. O que importa é surfar no quadro caótico, no quanto pior, melhor.
E a torcida? Tem participação societária no caos comodista. Ao apelar ao discurso de troca treinador, ela fica isenta de pedir o essencial: melhoria de estrutura, dirigentes, planejamento. Apelamos ao mágico, ao acaso e fugimos da verdade: competência.
E a imprensa? Culpada. Alguns coleguinhas apressados vão dizer: “Ora eu não marco gol”. Verdade. Mas influencia e pauta a opinião pública.
Convenhamos: em um futebol moderno, calcado na ciência e no profissionalismo é muito mais fácil determinar como pauta, a saída ou a chegada do treinador. Ficamos “de boa na lagoa”.
Se falarmos de métodos de treinamento, tarefas para analistas de desempenho, missões para o executivo de futebol a cabeça de alguns entra em parafuso. Então, o que justifica complicar? Continuamos no feijão com arroz sem tempero.
Ontem foi Marcelo Oliveira, hoje Fábio Moreno está na mira e amanhã será outro. Porque, no fundo, ninguém quer mudar. Ninguém. A mudança gera pavor e receio. Os jogadores não querem ser incomodados; os dirigentes querem fugir da responsabilidade, a imprensa recusa o conhecimento aprofundado e a torcida vive uma eterna síndrome de Estocolmo. E a instituição Ponte Preta está com os dois pés em uma areia movediça. Que já está no pescoço.
(Elias Aredes Junior)