“Gostando ou não, é isso que nós temos para colocar em campo”. Talvez essa frase resuma de maneira precisa o comportamento do técnico Mauricio Souza na coletiva após o empate sem gols do Guarani contra o Novorizontino. Em outro instante da conversa, ele mostrou contrariedade com alguns comentários que estariam desalinhados com aquilo que ocorre no cotidiano do clube.
Vou repetir: gosto do trabalho de Mauricio Souza. Faz muito com pouco. Montou uma equipe que, dentro de suas limitações, atua de maneira ofensiva e faz justiça ao DNA da agremiação. Não é pouco.
A irritação do treinador não pode passar batida. Porque é injusta. Sendo direto: jornalista tem defeitos. Eu acerto e erro pacas. Faço avaliações corretas e injustas. Isso vale para meus companheiros de profissão. No passado, o índice de erro era menor. Por quê? Os clubes eram abertos ás informações.
De 2008 a 2015 trabalhei como setorista de Ponte Preta e Guarani para o jornal Tododia e como comentarista para a Rádio Brasil e depois na Rádio Central.
Eu comparecia na maioria dos treinamentos, tinha contato com jogadores, dirigentes e comissão técnica e além de fazer as matérias, eu tinha subsídios para as análises. As discordâncias aconteciam, mas os dirigentes sabiam que eram com base naquilo que eu recebia de informação. Existia contestação? Sim. Elegantes e educadas. Hoje, o acesso à informação é mais difícil. Os treinadores e dirigentes estão fechados. E querem uma avaliação mais justa.
Pergunto ao treinador do Guarani: como vamos saber se você pretende escalar A,B ou C, ou se você prefere determinado jogador se não existe acesso aos treinamentos ou sequer conversas informais? Ok, você, treinador do Guarani, pode alegar que nas coletivas normais vários repórteres não aparecem. Com respeito e deferência quero esclarecer: assim como você, nós trabalhamos muito. Carga de trabalho pesada. Cada segundo é precioso. Chegar em uma coletiva e ficar no clube por, no máximo, 20 minutos ou meia hora, sem qualquer contato com o treinador e auxiliar é algo que colabora pouco para ter uma noção completa do trabalho.
Veja: culpa zero da assessoria de imprensa. Só que o calendário do futebol brasileiro é tão massacrante que sequer você teve espaço para conceder entrevistas as rádios da cidade de modo individual. Antigamente era simples: o setorista estava no dia a dia e com o microfone ligado. Um treinador passava, dava entrevista ao vivo ou gravada e tudo resolvido. Para o técnico que esclarecia alguns pontos e para emissora, que fornecia informação ao seu torcedor.
Maurício, como vamos conhecer o seu sistema se os portões trancados na semana? Se o diálogo é espaçado e sazonal? Não dá.
Entendo sua irritação. Observe, no entanto, que de protagonistas e responsáveis pela transformação do futebol em um esporte de massas – basta ler o livro “Os Donos do Espetáculo, de André Ribeiro- viramos inimigos a serem destruídos. Acredite: isso não é bom para você, treinador Mauricio Souza, e muito menos para nós, jornalistas.
(artigo de Elias Aredes com foto de Raphael Silvestre-Guarani F.C)