Apesar de serem enfadonhas e burocráticas, a entrevistas coletivas podem abrir chance de revelar intenções e ideias de jogadores, dirigentes e técnicos. Tal conceito aplica-se perfeitamente ao técnico Gilson Kleina e sua declaração após a vitória sobre o Atlético-PR. “Primeira sequência de duas vitórias no campeonato e isso nos dá mais confiança para começarmos a semana e preparar para a Sulamericana. A equipe fez hoje um futebol de resultado. A pontuação é importantíssima. Teve jogo que criamos bem, fomos superiores e não levamos nada para casa”, afirmou o treinador.
Em linhas gerais, Gilson Kleina afirmou ainda que de forma indireta que a retranca será a palavra de ordem quando os jogos acontecerem fora do Majestoso. Nada de ousadias. Esqueçam marcação adiantada e pressão para produzir erro no oponente.
O cenário será aquele visto na Arena da Baixada: marcação atrás da linha da bola, adiantamento em instantes esporádicos e se possível arranjar um gol e tratar de segurar o resultado. Dentro de casa, o jeito será contar com a letalidade ofensiva de Emerson Sheik e Lucca para fazer a diferença.
Existe uma notícia boa e outra má embutida na declaração do treinador. A boa é que a Ponte Preta caminhar na busca de um modelo de jogo tanto para o Majestoso como para longe de Campinas.
A decisão levará ao fim da instabilidade nas escalações, na escolha de jogadores e na definição dos titulares. Kleina vai abraçar a tese e vai arcar com as consequências. Detalhe: a estratégia só dará resultado se existir um respaldo irrestrito do departamento de futebol. Não bastará a declaração protocolar de Gustavo Bueno, gerente de futebol remunerado. O diretor de futebol Hélio Kazuo e até o presidente Vanderlei Pereira precisam vir a público e dizer em linhas gerais que aprovam a conduta do treinador e ele tem respaldo. Por que o cuidado? Simples: a torcida pontepretano já deu inúmeras provas de que não aceita tal conduta, apesar das limitações evidentes do elenco.
A má notícia é que a limitação técnica do elenco pontepretano não impede uma postura um pouco mais flexível e voltado ao ataque. Por enquanto, tal variação parece ignorada. Entendam: não prego a ofensividade irresponsável. Ou abrir espaço e ignorar a marcação.
Nada disso. Seria de bom grado testar alternativas táticas para que o contra-ataque da Macaca tivesse variações e pudesse surpreender. Exemplo: porque não testar Nino Paraíba como integrante do meio-campo, com a incumbência de tomar a bola e utilizar a sua força e velocidade para carregar a bola e entregá-la ao armador?
O próprio Kleina sabe dos benefícios de tal expediente com a presença de Renê Junior em 2012. Além disso, como já afirmamos em artigo anterior, todo o esforço deve ser focado em recuperar Renato Cajá para atuar pelo menos 70 ou 80 minutos em alto nível.
O time ganharia bola parada diferenciada, lançamentos longos aos laterais, passes em profundidade e capacidade de controlar o jogo no meio-campo. Visualize a cena e chegará a conclusão de que o time até poderá abraçar a retranca, mas o poder ofensivo terá alternativas mais saborosas tanto ao treinador como para a torcida.
Em resumo: se ficar parado e aceitar as limitações, a retranca aceita nas entrelinhas por Gilson Kleina será passaporte de sofrimento até dezembro. Se trabalhar em outras frentes, o que é amargo pode ser o caminho de uma estrutura de jogo firme e sólida.
(análise feita por Elias Aredes Junior)