O dia do Manto comprova: torcida da Ponte Preta tem a força de um canhão. Mas preferem combater com um estilingue

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Tudo começou com uma sugestão de um grupo de torcedores. Utilizar o feriado do dia 15 de novembro para sair as ruas com a camisa da Ponte Preta. Reafirmar o orgulho de sentar nas arquibancadas do estádio pertencente ao clube mais antigo do Brasil. Celebrar a participação na luta contra o racismo. Estas 24 horas foram batizadas de modo simples e singelo: Dia do Manto.

Desde as primeiras horas do dia, as redes sociais foram invadidas por declarações de amor à Ponte Preta. Histórias familiares e pessoais de como aquela camisa preta e branca com a faixa no peito é algo único. Um ineditismo esticado até para o mascote. Como disse o jornalista Zaiman de Brito Franco, coelho, raposa, tigre, elefante e outros animais são divididos entre diversos clubes do Brasil. Macaca? Só Ela. Única.

Quem tem conta no Facebook viu sua linha do tempo invadida por camisas pontepretanas. Sair para almoçar ou visitar parentes em Campinas recebia a comprovação de que o amor do pontepretano vai além do Moisés Lucarelli.

Ao olhar tal demonstração de amor e fidelidade chego a duas conclusões. Interligadas entre si. A primeira é de que o torcedor pontepretano, apesar de encontrar-se afastado do Majestoso, tem um “quê” de espírito argentino ou uruguaio. Ou seja, não depende de conquistas, glórias, chegadas em finais para demonstrar o seu amor. Ou confirmar a Ponte Preta como sua razão de viver.

Pense: uma torcida que passou 10 anos na segunda paulista na década de 1960, renegada e desprezada por seus adversários que se recusavam a jogar contra ela em 1988 (época de batalhas judiciais) e que conviveu com rebaixamentos (2006 e 2013) teria motivos de sobra para arrefecer o sentimento do seu torcedor. Acontece justamente o contrário. Não é pouco.

Ao checar este amor incondicional é inevitável constatar as oportunidades perdidas pela diretoria quando o tema é arrastar torcedores no Brasileirão. Como justificar este litigio com as arquibancadas diante deste potencial desperdiçado? Potencial revertido em 30 mil pessoas no Pacaembu, quatro mil na Argentina em 2013 e que apesar das  dificuldades acredita e coloca fé de que algo vai mudar. Para melhor. Só tem uma condição: uma resposta de ousadia, criatividade, planejamento e ambição. Fora disso, nada feito.

Por que a diretoria insiste em abraçar um pragmatismo sem cego, sem olhar às arquibancadas? Por que esta obsessão de apenas fechar as contas ( o que é louvável) e aceitar de modo resignado as diferenças econômicas como um atestado de coadjuvante eterno do futebol brasileiro?

O “Dia do Manto” comprova que a Ponte Preta está sim diante de gigantes. Em contrapartida, tem no fanatismo de sua torcida um combustível  capaz de lutar por algo grande. Vai conseguir? Não há garantia. Só que com uma postura desejada Ela vai lutar, batalhar, tentar. Até a última força.  Hoje, a diretoria, queira ou não, troca o canhão de paixão da arquibancada pelo estilingue da racionalidade extrema.  Vestir a camisa é o rumo correto para transformar sonhos em realidade.

(análise feita por Elias Aredes Junior)