O Só Dérbi sempre estará ao lado dos torcedores de Ponte Preta e Guarani. Para auxiliar na volta dos bons tempos!

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Desde os primórdios do futebol no Brasil, os dirigentes nunca gostaram do jornalismo puro, focado em fiscalizar os desmandos e as mutretas do poder. Um painel bem elaborado deste cenário é descrito pelo jornalista André Ribeiro no livro “Os Donos do Espetáculo”, que conta a história da imprensa esportiva no Brasil.

Nomes como Juca Kfouri, João Saldanha, Sérgio Martins, José Trajano, Flávio Gomes, Mauro Cézar Pereira, Lúcio de Castro  nunca caíram nas graças dos gabinetes e sequer dos vestiários e do banco de reservas. O motivo é que tais profissionais resolveram revelar que tais personagens eram falhos, cometiam erros e por vezes deslizavam até no campo da moral e da ética. Estes jornalistas pagaram um preço. Especialmente por enfrentar um modelo consagrado no país, que é do jornalista e do cronista que é camarada ou torcedor. Que de tão apaixonado pelo clube fica alienado.

Sou apaixonado por futebol. Desde 1980. Tenho recordações de jogos inesquecíveis e de atletas nos dois clubes de Campinas. Um caminho natural seria a de trilhar a opção da alienação. Ser um torcedor com um microfone na mão e ficar bem com todos. Confesso que até 1990 esta minha visão prevalecia. Mudou quando entrei aos 18 anos no curso de jornalismo da PUC-Campinas.

Ao ter contato com um vasto campo de leitura e de conhecimento, minha cabeça alterou. Ainda existiam resquícios  quando estava formado e atuei como repórter primeiro na editoria de esportes do Diário do Povo e depois nos outros veículos em que trabalhei. Quando mergulhei fundo na literatura sobre futebol, o rumo foi alterado. Passei a relacionar futebol com economia, sociologia, literatura, administração, antropologia…Impossível considerar um esporte apenas nas quatro linhas. Ou em declarações vagas e artificiais de dirigentes.

Foi  essa minha conduta quando atuei de 2008 a 2015 no Jornal Tododia. Sob o comando do editor chefe Claudio Gioria vivi o começo de uma das experiências mais gratificantes da minha profissional. Liberdade editorial plena, sem medo de interferência dos poderosos. Apenas uma orientação: que todos os lados fossem ouvidos. Sem restrições as matérias de cunho crítico e que contestavam o poder. Uma premissa presente e bancada até hoje pelos responsáveis pela Rádio Central de Campinas.

No Guarani tenho satisfação em dizer que por intermédio da minha atuação, o jornal foi um dos primeiros veículos que abriram espaço ao então candidato oposicionista Horley Senna e seu grupo político. Que deu voz e vez a todos os grupos de oposição na Ponte Preta.

Pena que os localizados na oposição e agora situação do Guarani demoraram a entender a função do jornalismo. Ao publicar uma matéria sobre o leilão do Guarani na Justiça Federal, este jornalista ficou um ano proibido de entrar nas dependências do estádio Brinco de Ouro da princesa. Sem acesso a coletivas e treinamentos. Nunca deixei de fazer meu trabalho. Pelo contrário. Com o auxilio do então chefe de esportes da Rádio Central, Alberto César e da direção do jornal, aconteceu o entendimento para o meu retorno e para Horley Senna compreender que o papel da imprensa: fiscalizar, cobrar, pedir providências e mudanças. E ao poder estabelecido cabe responder as demandas. Com maturidade.

Esta semana foi marcada pela largada oficial da campanha eleitoral na Ponte Preta. Situação e Oposição vão lutar pela primazia de comandar o clube no próximo período. Este Só Dérbi já se posiciona: não apoiará ou avalizará nenhuma das chapas. Fará a sua função que é de questionar sobre os planos de governo. Ponto. Tanto que encaminhou questionários para as duas candidaturas. Esperamos que as respostas sejam dadas. Não para o Só Dérbi, e sim para o torcedor da Ponte Preta.

Da nossa parte o que esperamos tanto de uma chapa como de outra é que aconteça exercício de democracia. Tanto para fazer campanha como também para compreender o papel da imprensa crítica, independente e apartidária.

Alguns afirmam que o futebol é dissociado da vida real. Não é. Vivemos em um país que lutou por democracia. Batalhou pelo direito ao voto e quer colocar no passado fatos em que jornalistas eram presos, torturados, cassados e a censura imperava. Pior: mortes de civis ocorriam nos porões da ditadura e a resposta era o silêncio imposto aos veículos de comunicação. Um período em que Campinas ficou estabelecida na história como uma cidade oposicionista, de vanguarda e cujo futebol também era instrumento de luta.

Basta dizer que em 1977 a Ponte Preta foi derrotada não só no gramado, mas pelo Status Quo sequioso em ver o Corinthians quebrar o jejum de títulos. No ano seguinte, o Guarani foi campeão brasileiro e notabilizado como um contraponto ao futebol pragmático do militar Cláudio Coutinho na Copa do Mundo da Argentina. Ou seja, luta por democracia nas ruas e nos estádios.

Cabe perguntar: as duas chapas que concorrem a eleição da Ponte Preta querem deixar este legado fugir por entre os dedos? Vão abraçar a democracia plena e respeitar a visão do oponente e compreender o papel da imprensa em todos os quesitos? Ou algum dos lados quer abraçar a estratégia do estado de exceção e da censura quando estiverem com a caneta na mão?

Este Só Dérbi não quer reproduzir a visão do jogador, treinador, empresário e dirigentes. Pode e deve relatar, retratar e analisar. Nunca estabelecer relação promíscua. Nossa função é sim, ser um instrumento de reflexão de um torcedor cansado de tantos anos de incompetência e desmando. Dos dois lados.

No caso da Ponte Preta, o clube está dividido nas arquibancadas. Nossa função é dar voz a todos. E lutar para que a imprensa esportiva em Campinas fique notabilizada como a própria cidade: ousada, criativa, critica, culta, independente e de interesse publico.

Fora destas características, o jornalismo e o jornalista correm perigo de atender interesses individuais ou incorporar o papel de aliados daqueles que defendem a luta pelo poder sem escrúpulos. O Jornalismo bem feito não comporta este pacto. Esta é a nossa luta. Para que tenhamos esperança de retorno aos bons tempos.

(Texto escrito por Elias Aredes Junior)