Acompanho futebol desde 1980. Idem o futebol campineiro. Tinha sete anos e testemunhei a reta final dos anos de ouro. Pelo lado da Ponte Preta, a vitória no dérbi de 1981, o vice-campeonato paulista, o terceiro lugar no Brasileirão, as peripécias de Dicá, Odirlei, Oswaldo, Chicão. Acompanhei atuações irregulares ou decepcionantes de Mário Sérgio, Raí, Paulo Egídio, entre outras estrelas na década de 1980.
Era ouvinte das emissoras de Campinas e leitor voraz da Coluna SóFutebol (e de Bastidores!) publicada pelo Correio Popular. Não sabia o nome de dirigente nenhum. Diretor de futebol, presidente, superintendente…Nada…Conhecia os jogadores, treinadores e suas peripécias. Nada mais.
O roteiro ficou meio torto e sem sentido a partir de 1988, quando o então presidente Lauro Moraes tentou de todas as formas evitar o rebaixamento á divisão intermediária. A Macaca naquele ano apelou às instâncias judiciais e apenas o Corinthians se dispôs a jogar contra a Alvinegra. O time pontepretano jogou em São Paulo no dia 22 de abril com Sérgio Guedes; Roberto Teixeira, Junior, Osmar Guarnelli e Evandro; Charles, Jorge Mendonça e Binhão; Silvio, Vagner e Wilson. O técnico era Nicanor de Carvalho. Poucos lembram da escalação e do empate sem gols.
Por que? Simples: os holofotes eram dirigidos a Lauro Moraes, posteriormente derrotado nos tribunais e forçado a disputar a levar a Alvinegra a segundona. O acesso de 1989 é inesquecível. Garanto que poucos recordam do corpo diretivo, mas muitos sabem que o atacante Monga fez gols decisivos para chegar ao cobiçado acesso.
Faça um recorte no tempo. Vá até 1996. Nivaldo Baldo assume a presidência, renuncia e Sérgio Carnielli assume. Posso cravar que de 1997 até 2002 tanto Carnielli quanto o diretor de futebol Marco Antonio Eberlim eram procurados pela imprensa e tinham seu papel. Só que o protagonismo estava com Washington, Mineiro, Ronaldão, Piá, Roberto, Rodrigo, Macedo, Nelsinho Baptista, Oswaldo Alvarez, Marco Aurélio Moreira, entre outros.
Os dirigentes eram cobrados? Sim. Muito. Outros tempos. As reclamações das arquibancadas preferenciais eram diversas: a incompetência de Macedo para finalizar, os rompantes injustificáveis de Piá, o estilo retrancado de Vadão ou Marco Aurélio. A discussão era em torno do jogo, da bola, das falhas em jogos decisivos. Naquela época, com seu estilo desbocado Eberlim surgia para defender os jogadores e cutucar os métodos de trabalho da imprensa.
Estamos em 2016, a temporada está prestes a finalizar a temporada e a insatisfação está latente no torcedor pontepretano. Não vai arrefecer ainda que a Macaca vença o Coritiba na última rodada, alcance aos 53 pontos e crave a melhor campanha da história do Campeonato Brasileiro no formato de pontos corridos e 20 times.
Qual o motivo da contrariedade? A falta de ambição explica boa parte do azedume. Mas a inversão de prioridades arrebenta. Os gols de Roger, as defesas de Aranha, a versatilidade de Felipe Azevedo, a força e velocidade de William Pottker, a vitalidade de João Vitor…Tudo isso ficou relegado ao ostracismo diante da mudez de Vanderlei Pereira, da ausência de entrevistas periódicas de Gustavo Bueno e Cristiano Nunes e das respostas atravessadas de Eduardo Baptista a cada questionamento a respeito de seu trabalho. Nenhuma frase com sede de vitória ou gana de fazer história. Homens acima de uma camisa ou instituição. O gabinete em processo de massacre contra os gramados. A gravata vencedora no embate com a chuteira.
Que 2017 traga para os comandantes da Ponte Preta uma lição básica: quanto mais eles falarem e procurarem a imprensa para esclarecerem sobre os rumos do futebol profissional e não para aparecerem ou demonstrarem apatia, maior será a chance do vestiário, da bola e do gramado ganharem relevância. E a torcida vai cobrar de quem deve colocar a bola na rede e não de quem assina o orçamento.
(análise feita por Elias Aredes Junior)