Analisar, pensar, reportar e criticar o desempenho da Ponte Preta na Série B do Campeonato Brasileiro tem sido um exercício desgastante para os profissionais de comunicação. Algo que beira a estafa e compromete a saúde de muitos. Nós, jornalistas e analistas, estamos emparedados e pressionados por dois grupos.
O primeiro grupo, muitos presentes nas redes sociais, estão revoltados diante dos números na Série B do Campeonato Brasileiro. Reflexo de um futebol pobre, sem imaginação, sem criatividade, com jogadores robóticos e que até o momento não conseguiram levar a Macaca a figurar entre os 10 primeiros colocados. Em nenhuma rodada. Péssimo. Decepcionante.
Esse grupo, dotado destes dados inquestionáveis, querem que os jornalistas promovam diariamente um linchamento virtual contra os integrantes da diretoria e alguns até consideram salutar a quebra das regras do jogo. Ou seja, a instituição de uma nova diretoria. Se consideram que eu exagero na descrição dê uma volta nas redes sociais pontepretanas.
Não pense que acabou.
O outro grupo, formado por apoiadores da Diretoria Executiva, escrevem e defendem teses que desejam que figurem na boca dos jornalistas. Em resumo: que se a atual diretoria executiva não consegue fazer aquilo que se espera é por que diretorias anteriores deixaram o quadro financeiro em estado de miséria. E se você não encampar a teoria? Dá-lhe reclamações e muxoxos nos aplicativos de mensagens em redes sociais. Uma chiadeira que não tem fim.
Quem está certo? Ninguém. E vou explicar. Os pontepretanos que reclamam da atual gestão tem todo o direito de encontrarem decepcionados e encaminharem seu protesto. É democrático. Salutar. Mas uma análise madura pressupõe entender que se no futebol o rendimento é decepcionante e abaixo da linha do aceitável, também é preciso reconhecer as melhorias internas feitas. Sim, o futebol tem peso maior. Só que todo mundo tem um lado positivo. Salvo as exceções de prazo. Menos ódio e mais razão seria o caminho correto. E mais: se considerar que o futebol encontra-se em débito, que utilizem o estádio para protestar após os jogos. Sem violência.
Quanto aos apoiadores da atual direção, quero propor uma reflexão: quando a estratégia da alienação do torcedor deu resultado para a instituição?
Basta verificar os últimos rebaixamentos colhidos em 2013 e 2017 no Campeonato Brasileiro e em 2022 no Campeonato Paulista.
Em todas essas ocasiões, sempre apareceram coleguinhas de imprensa ou torcedores dizendo o velho mantra que não se dizia criticar. Que os veiculos de comunicação não deveriam mostrar os aspectos negativos existentes no gramado.
Pergunto: quando isso resolveu? Quando colocar a cabeça em um buraco como um autêntico avestruz fez alguma instituição crescer e avançar? O que resolve pressionar para que profissional X abrace determinada tese e não aborde as falhas recorrentes do futebol profissional? O que resolveu nestas três ocasiões viver uma realidade paralela?
“Ah, mas a Ponte Preta é de Campinas, você quando critica joga contra o próprio patrimônio”. Com todo o respeito: balela. Jornalistas devem analisar fatos , criticar medidas e fiscalizar o poder. Se o grupo que está no poder produzir de modo condizente, receberá palmas de quem merece: o torcedor. O jornalista ficará no seu papel. Sempre.
Acham que tudo escrevemos e falamos é bobagem? Sem problema. Que adotem as medidas que consideram o melhor para a comunidade. E se der errado? Levanta, faz de novo e compreenda que em uma sociedade democrática, a liberdade de expressão e de idéias é um valor inegociável. Até no futebol. Mesmo que muitos pensem o contrário.
(Elias Aredes Junior-com foto de Diego Almeida-Pontepress)