Ponte Preta e Guarani querem entrar no universo das arenas. É bom negócio?

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Ponte Preta e Guarani encontram-se em uma batalha surda nos bastidores. Viabilizar no menor tempo possível a construção de uma arena é o sonho dos dirigentes . Apenas as vantagens são repassadas ao distinto público: conforto, visão geral do gramado, fim de confusão na hora de acomodar os torcedores presentes, venda de camarotes a preços exorbitantes para empresas ou pessoas físicas…A possibilidade de lucros parece quase infinita. Seria um negócio da china. Sim, eu mudo o tempo do verbo por um único aspecto: por vezes, a troca de ideias  ignora pontos vitais. Não falamos apenas uma praça de esportiva, mas de um modelo de negócio, ávido por público e recursos para se viabilizar.

Se Ponte Preta e Guarani viabilizarem suas arenas qual será o patamar de sua manutenção? Em Araraquara, a Arena Fonte Luminosa tinha em 2010 um valor de R$ 30 mil mensais para ficar de pé, algo que deve ter sido majorado em virtude da inflação. Mesmo assim, é um patamar razoável, dentro da realidade.

Nas Arenas utilizadas na Copa do Mundo, o custo fica lá em cima

Nas arenas construídas para a Copa do Mundo o papo é bem diferente. Para deixar  em condições dignas a Arena Itaquera, o Corinthians gasta R$ 2,5 milhões mensais de manutenção. Nem os locais exibidos com modelo de economia e racionalidade escaparam. A Arena Pernambucano tinha uma folha de pagamento de R$ 1,4 milhão e após um acordo com os trabalhadores reduziu para R$ 500 mil mensais. Com isso, abriu espaço para manutenção cair de R$ 2,5 milhão para R$ 1 milhão. E falamos de um estádio com capacidade para 40 mil pessoas, o que não é muito longe da estrutura desejada por bugrinos e pontepretanos.

Na Arena do Grêmio, construída graças a uma parceria com a iniciativa privada, o refresco não é menor. “O custo mensal está variando entre R$ 800 a R$ 900 mil, depende da situação. Isso é fora o jogo. O jogo custa em torno de R$ 250 por dia de jogo”, explicou no ano passado o presidente gremista Romildo Bolzan, que patrocinou até uma auditoria para checar os custos. Diante destes dados vale a pena fazer a pergunta: de que tamanho e proporção seriam estas novas arenas em Campinas? A manutenção caberia no atual bolso dos clubes? Nunca esquecer que falamos de um clube que está na Série de elite mas infelizmente recebe a menor cota – R$ 28 milhões- e de um clube que mesmo com a negociação de dividas trabalhistas e melhoria da situação financeira está longe de encontrar-se em situação financeira plena.

O ex-presidente Álvaro Negrão chegou a pensar em patrocinar uma reforma no Brinco de Ouro. Agora, a prioridade é uma arena para 15 mil pessoas
O ex-presidente Álvaro Negrão chegou a pensar em patrocinar uma reforma no Brinco de Ouro. Agora, a prioridade é uma arena para 15 mil pessoas

Pobres devem ser excluídos? A classe elitizada é suficiente para quitar a conta?

Outro debate precisa ser colocado: qual público a ser buscado para as novas arenas? Classe A e B? Classe média? Focar na venda de camarotes? E os pobres? Serão atendidos?

Sinto dizer, mas os modelos de negócios por Corinthians e Palmeiras não podem ser usados jamais como parâmetro em Campinas. O motivo principal é a dimensão de público oferecidos aos clubes paulistanos. São Paulo para começar é uma cidade de 12 milhões de habitantes. Pela pesquisa do Ibope de 2014, o Corinthians tem 35,5% de preferência no estado de São Paulo. Se transportarmos esta preferência apenas para a capital paulista seriam 4,260 milhões de torcedores corinthianos. Como o Palmeiras, de acordo com esta mesma pesquisa tem 13,5% do total no estado (ou 5,9 milhões), em Sampa o torcedor palestrino reúne uma legião de 1,620 milhão de pessoas. E segundo o mesmo levantamento, 21% dos torcedores do Alvinegro paulista ganham acima de 10 salários mínimos. Se levarmos essa conta para a cidade de São Paulo temos um público de 894.600 torcedores como alvo para cobrar valores altos e preencher para preencher e fidelizar um estádio para 40 mil pessoas.

No Palmeiras, o contingente de torcedores residentes em São Paulo e que ganham acima de 10 salários minimos é de 149 mil e com a meta de buscar preencher um estádio com 40 mil lugares. Pense pare e reflita: se Ponte Preta e Guarani fizerem estádios para digamos 15 mil pessoas (uma estimativa conservadora), tais equipes terão público suficiente e necessário para preencher os lugares e com preços jogados lá pelo alto? Será que a solução não seria focar na classe média baixa e nas classes populares pois estamos em uma cidade com 1,1 milhão de habitantes e cujo os dois times já disputam a preferência com os quatro gigantes da capital?

Arenas deveriam atrair shows. A história vai se repetir em Campinas?

Nova arena pontepretana será no Jardim Eulina: oportunidade de negócios?
Nova arena pontepretana será no Jardim Eulina: oportunidade de negócios?

Vou além: mesmo que não admitam, os rivais sonham em abrigar shows de grande bilheteria. Ganharia com aluguel e ajudaria na manutenção. Mas espere um pouco. Há mercado e demanda para shows de grande proporção em Campinas? Podemos detectar espaço para concorrer com casas de shows tradicionais e cuja necessidade de público é bem menor do que um estádio de futebol? E quando o futuro estádio for fechado para um show? O gramado suportará ou será necessário procurar um novo estádio? Qual seria esse estádio? Jaguariúna? Sorocaba? Mogi Mirim? A torcida aceitaria?

Poderia e deveria abordar outros tópicos a respeito dos novos estádios para Ponte Preta e Guarani. Na Alvinegra, aArena seria construída no Jardim Eulina e também seria uma forma de por intermédio de outros empreendimentos ressarcir o presidente de honra Sérgio Carnielli. Em contrapartida, no Guarani, tudo faz parte de um acordo estipulado na Justiça Trabalhista com o empresário Roberto Graziano.

A Ponte Preta defende a transparência de sua gestão e Horley Senna esclarece que nada será aprovado (CT, Arena) sem a participação e aprovação do Conselho Deliberativo. Pois eu digo que é muito pouco. Quase nada.

O debate á exaustão é a saída

Tais requisitos deveriam vir acompanhados de debates e audiências públicas realizadas pela Câmara Municipal e também por Unicamp e Puc-Campinas. Não um ou outro evento esporádico como já aconteceu na questão da Ponte Preta para viabilizar a arena no Jardim Eulina. Deveria ser estipulado um calendário por todo o todo ano, com a participação de engenheiros, arquitetos, homens do futebol, administradores, torcedores e dirigentes. Uma troca de ideias que analisasse os pontos positivos e negativos de tais empreendimentos.

Ponte Preta e Guarani são entidades de interesse público, gozam de isenção de impostos e fazem parte da identidade de Campinas. Agora, querem fazer uma plástica sem ouvir uma segunda opinião. Não é de bom tom.

(análise, dados e texto de Elias Aredes Junior)