Ponte Preta e Guarani: vítimas da alienação e do conformismo. Até quando?

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Em 1974, o presidente norte-americano Richard Nixon renunciou ao principal posto do planeta. A história permitiu a passagem de 18 anos e Fernando Collor de Mello foi apeado do poder e do Palácio do Planalto. No futebol, a Revista Placar denunciou de modo vigoroso em 1981 e implacável a Máfia da Loteria Esportiva. Uma trajetória que se repetiu em 2005, quando o escândalo de compra de jogos trucidou a carreira de Edilson Pereira de Carvalho e provocou reviravolta no Campeonato Brasileiro.

O que todos estes fatos têm em comum? A atuação firme e vigorosa da imprensa. Reportagens e investigações que abalaram as estruturas do poder e modificaram o curso de fatos e locais. Histórias amargas, mas cuja verdade era necessário expor. E denunciar.

Faço uma viagem no tempo e verifico o futebol de Campinas. De 1977 a 1987 teve um período de ouro, com participações em campeonatos nacionais e até internacionais. Era manchete de jornais e televisões. Fazia história.

Eis que a penumbra da crise chega no Estádio Moisés Lucarelli e no Brinco de Ouro. Cada um do seu modo enfileiraram motivos para se envergonhar. A Macaca teve um sofá penhorado, desmandos mil e amargou rebaixamentos em Campeonatos Brasileiros. Gerou decepções a sua torcida. Hoje, na prática, está na mão de uma única pessoa. Do qual a torcida deve agradecimentos sim por tudo que fez, mas esta figura parece querer viver o cenário do filme “Feitiço do Tempo”, de Bill Murray, em que ele não conseguia sair de um determinado dia. Para ele, o tempo não pode avançar. Não quer ser atropelado.

No Guarani, o cenário é desolador. Nos últimos anos, foi arrastado por um vendaval de incompetência: Leonel Martins de Oliveira, José Luis Lourencetti, Marcelo Mingone, Álvaro Negrão, Horley Senna…escolha a sua frustração de estimação e lamente. Nove rebaixamentos desde 2001, dívidas aparentemente impagáveis, jogadores limitados, etc, etc, etc. Um filme triste sem fim.

Tudo lindo e maravilhoso. Será?

Diante desta situação de emergência qual seria a reação natural: indignação, cobrança implacável sobre os dirigentes, vigilância sem parar por parte da imprensa. Busca de melhorias, debate sobre novas formas de gestão, entre outras reivindicações.

Aconteceu justamente o contrário. Queiramos ou não, tanto os torcedores dos times como também a imprensa (no qual me incluo) somos reféns de um sentimento de fuga e de realidade paralela. Os resultados ruins são aceitos com conformidade e algumas frases chavões são proferidas: “Não pode bater”, “Tem que dar carinho”, “O torcedor não vai entender”, “Futebol é paixão. Não adianta dizer a verdade”. Uma verdadeira cartilha de alienação. No fundo, no fundo, apenas adiamos o ataque aos problemas nevrálgicos.

A ordem é blindar. Custe o que custar

Felipe Moreira não treina bem a Ponte Preta? Deixa o homem trabalhar. Fumagalli está em litigio com Ney da Matta? Teoria da cabeça da imprensa. Balela. A diretoria da Ponte Preta erra em demasia? Alguns jornalistas é que promovem perseguição. Horley Senna atrasou salários? Mentira, isso é “Fumaça” da cabeça de alguns.

Um desfile de desculpas que rodam as redes sociais e os meios de comunicação. Poucos querem encarar a real: éramos grandes e incomodávamos os gigantes. Na atualidade somos, no máximo de médio porte. Ou alguém acha que a Ponte Preta está no mesmo patamar administrativo de estrutura de , por exemplo um Atlético-PR ou até do Bahia? O que dizer então do Guarani que volta a Série B do Brasileirão após quatro anos? Estamos atrás. Fato.

Ponte Preta e Guarani. Dois clubes centenários que não tem um Centro de Treinamento do porte de Ceará e Criciúma, com um décimo da tradição dos campineiros. Agremiações incapazes de pensar em projetos futuros. Bugrinos e pontepretanos deixaram a rivalidade de lado e abraçaram um ódio inconsequente nefasto, responsável até por mortes.

A cura? Para muitos não é a cobrança forte, vigorosa e contínua tanto dos torcedores como da imprensa. A ordem é sufocar o debate, colocar tudo para debaixo do tapete. Querem uma prova disso? A perda de relevância dos dois Conselhos Deliberativos. Anteriormente, uma arena de debates que reverberava pelas esquinas. Hoje, dois  órgãos por vezes sob o controle do poder executivo. O que fazemos? Nada. Porque a alienação parece ser o único caminho escolhido. Por todos. E quem ousa “sair do transe” é dado como louco ou fora de si.

Novela sem final feliz?  

Enredos e atitudes típicas de novela. Como Irmãos Coragem. Sucesso da Rede Globo na Década de 1970, o programa tinha como enredo principal o embate de João Coragem contra os desmandos do Coronel Pedro Barros, sedento pela posse de um diamante. Em dado momento, a voz de João era solitária, ninguém lhe ouvia. Até que seu prognostico mais sombrio aconteceu: enlouquecido, o coronel coloca fogo na cidade de Coroados e deixa a cidade em cinzas. O que sobrou foi apenas o diamante, motivo de toda a disputa. Na cena final, João Coragem arrebenta a pedra preciosa e conclama o povo a reconstruir a cidade do zero.

Para o futebol de Campinas, a pedra preciosa são os anos de ouro da década de 1970. Embevecida, olhamos para a jóia e esquecemos que o Coronel já está com a tocha na mão pronto para fazer o serviço. Que alguém desperte enquanto é tempo.

(análise feita por Elias Aredes Junior)