A Ponte Preta conquistou a segunda vitória consecutiva no Campeonato Paulista e o torcedor respirou aliviado. Passa a sonhar com dias melhores e com uma performance mais competitiva na fase inicial. Junto com os seis pontos alguns conceitos perigosos vem embutidos. Conceitos místicos presentes no cotidiano no futebol que podem acarretar em satisfação no curto prazo, mas são armadilhas para quem deseja viabilizar estrutura profissional modernizante e eficiente.
A mistica inicial: a vitória apaga tudo. Não, não apaga. O fato de Alexandre Gallo ter posicionado melhor o time na defesa, montar uma estratégia de jogo e coerente e ter conquistado os pontos necessários para tirar a Ponte Preta do sufoco não produz um habeaus corpus automático para dirigentes, jogadores e comissão técnica. Nada disso. Os acertos do presente não apagam os erros do passado. Simples assim. Dirigentes, por mais bem intencionados que sejam ( e os da Ponte Preta são) não são Deuses. Não são infalíveis. Erram e acertam como qualquer outro.
Quem tem o minimo conhecimento de futebol, por exemplo, sabe que este atual elenco pontepretano é inferior ao do Paulistão de 2015. Fato. Tiago Alves e Fábio Ferreira tiveram boas atuações contra o São Paulo? Sim. Mas não há como questionar que a qualidade técnica deles é inferior ao de Pablo e Renato Chaves, recentemente desligados. O que dizer então de Clayson, que era tida uma aposta para substituir Biro Biro? É fato: ele está jogando menos que seu antecessor na mesma altura do campeonato.
Reinaldo: negação da realidade?
Outro clichê existente no futebol e que a Ponte Preta não pode cair é quanto ao lateral-esquerdo Reinaldo. Com boa atuação diante do São Paulo e autor do gol da vitória, a saída simples era elegê-lo como novo herói. Nada mais precipitado. O lateral veio em baixa do Morumbi. Não gozava de credibilidade tanto com a comissão técnica quanto da torcida, que lhe pressionava de modo enfático.
Mérito do jogador que ele aproveitou esta onda negativa para angariar forças e realizar uma partida convincente e decisiva. Mas a função do crítico é analisar o outro lado. Se a comissão técnica e a torcida são paulina tem bronca de Reinaldo é porque ele foi submetido a diversas provas de fogo e não foi aprovado com a camisa do tricolor paulista. Jogou mal em instantes decisivos. Queiramos ou não, nenhum conceito é formulado a partir de bases frágeis quando um atleta atua em um clube gigante.Reinaldo não foge á regra.
Analiso a performance de Reinaldo como o passo inicial para retomada da carreira e construção de uma trajetória estável. Só poderemos dizer que ele superou dois anos e quatro meses de um futebol de baixa qualidade se exibir bom futebol tanto no Paulistão como também no Brasileirão. Tirar conclusões antes do decorrer do processo é abraçar o artificialismo.
Alexandre Gallo: prefácio é uma coisa; livro escrito é outra
O terceiro é último clichê perigoso que flerta a Ponte Preta envolve o técnico Alexandre Gallo. Não fico em cima do muro. Quando foi contratado, considerei que o nome poderia dar certo se ele enfatizasse seu lado boleiro e de papo nos vestiários. Nunca foi reconhecido com um ás da estratégia e da tática.
Perceba: em todas as entrevistas, os jogadores elogiam a linguagem fácil do novo chefe, o didatismo com que transmite suas instruções. Então está tudo resolvido e Gallo é o melhor treinador do mundo? Nada disso. Ele teve o mérito de arquitetar um esquema tático cuja proximidade entre os setores de defesa, meio campo e ataque é elogiável.
Sem contar o paredão defensivo arquitetado contra o São Paulo e com bons dividendos. Isso não quer dizer necessariamente que tudo está pronto. Gallo terá a missão de nos próximos meses viabilizar novos modelos de jogo e simultaneamente auxiliar no planejamento do Campeonato Brasileiro. São tarefas complexas, demandam tempo e exigem muito do profissional. Guto Ferreira e Gilson Kleina, queiramos ou não, passaram por tais conjunturas nas oportunidades que dirigiram a Macaca e fizeram história. Alexandre Gallo está no prefácio. Engano pensar que sua história já está escrita e com final feliz.
Tem chance disso acontecer? Sim. Especialmente se tanto ele como a Ponte Preta largarem os clichês, abraçarem o planejamento e encararem o futebol como um processo de curto, médio e longo prazo. Que contém erros e acertos. Não uma caixa mística capaz de fazer heróis e vilões em um passe mágica.
(análise escrita por Elias Aredes Junior-Foto Fábio Leone-Pontepress)