O escritor e ensaiasta Thomas Carlyle dizia que o tédio é a doença dos corações sem sentimentos e das almas pobres. Se for ao dicionário, a definição é mais simples. Pode ser a sensação de enfado produzida por algo lento, prolixo ou temporalmente prolongado demais. Também é a sensação de aborrecimento ou cansaço, causada por algo árido, obtuso ou estúpido.
Como não associar todos esses conceitos ao futebol apresentado pela Ponte Preta? É muito similar a uma novela de Manoel Carlos: nada acontece. Tudo é arrastado, sem vida, sem sentido.
A cada lance, a cada minuto, você verifica o dominio, a tentativa de drible ou conclusão e qual o resultado? Nada. Reconheço: não falta esforço, dedicação, determinação. Mas o requisito principal está ausente: talento. Qualidade. Técnica. Capacidade de decisão. Os nove pontos somados em nove jogos se constituem na tradução de uma equipe sem inspiração na maior parte dos 90 minutos. Triste, arrastado, sem vida.
E esse tédio futebolistico não será resolvido com troca de treinador. Perceba: as vezes você tem um treinador que tem um elenco razoável nas mãos, mas que não consegue armar o time minimamente. Ou que não explora todo o potencial técnico. No caso da Ponte Preta é diferente.
O time entrega tudo o que pode.
Tanto em dedicação como na parte técnica. Moral da história: o elenco é fraco. E detalhe: elenco que já passou por reformulação após o rebaixamento na Série A-1 do Campeonato Paulista. Ou seja, se com duas reformulações o processo não evoluiu, alguém precisa ser responsabilizado.
Neste caso, duas figuras emergem do organograma, o presidente Marco Antonio Eberlin e o coordenador de futebol, Luiz Fabiano. Ora, se o time não joga, não cria, não faz nada de diferente ou criativo para buscar a vitória, a pergunta precisa ser feita: quem contratou? Quem trouxe? Quem avalizou este estado de coisas no gramado? Pois é. A responsabilidade é deles. De ninguém mais.
Aos apoiadores da atual diretoria que não gostam ou apreciam esta análise, penso que está na hora de, ao invés de criticar ou ficar de muxoxo com o analista que façam a seguinte reflexão: do jeito que está não dá para ficar. A Ponte Preta não suportaria um novo rebaixamento na mesma temporada. Seria a destruição total da auto estima do torcedor. E arrebentaria com as condições políticas da atual Diretoria Executiva.
Evidente que muitos apoiadores do MRP vão dizer que alguns fatores colaboram de modo decisivo para a formação do atual quadro, especialmente na parte financeira. E alguns exemplos saltam aos olhos, como o pedido de bloqueio de contas para pagar o ex-técnico Doriva ou o processo movido por um ex-presidente em que pede a bagatela de R$ 80 milhões como forma de ressarcimento.
São bons argumentos em um ambiente racional. Mas quem disse que o futebol é forjado na racionalidade? Quem disse que existe tempo para esperar o fruto aparecer? Não é de minha concordância mas o futebol brasileiro pede o imediato, o agora. Algo que não acontece na atual Ponte Preta.
A atual gestão pode até alegar reformas nos alojamentos e outras mudanças estruturais que vão permitir que a Ponte Preta tenha capacidade de investimento em médio e longo prazo. Mas tudo isso ficará em terceiro ou quarto plano com um novo rebaixamento. Ninguém irá suportar uma nova vergonha.
Ah! o fracasso da atual gestão será a debacle de toda Ponte Preta. Não, não venham com o argumento de que a atual oposição é melhor porque tem dinheiro. Não, não é.
A cada dia que passa, a cada ação da nova gestão e cada recordação dos erros administrativos e de gestão cometidos pelos presidentes anteriores fica cada vez mais comprovado que a Ponte Preta necessita de alguém com o perfil do ex-presidente Palmeirense Paulo Nobre.
Alguem com capacidade de aglutinar, de promover o diálogo, que esteja acima das disputas políticas e que coloque a Ponte Preta no rumo do Século 21. E que modernize tudo. Inclusive o Majestoso.
Sinto dizer que por enquanto essa pessoa não existe. E não sei se vai existir.
Enquanto isso, o torcedor pontepretano chora, sofre e morre de tédio por aquilo que vê no gramado. Algo precisa ser feito. Porque já é tarde demais.
(Elias Aredes com foto de Álvaro Junior-Pontepress)