Ponte Preta: Planejamento empresarial e futebol profissional. Por Pedro Maciel Neto

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O técnico interino na Ponte Preta, Professor João Paulo Sanchez, foi demitido logo após a vitória da Macaca contra o São Paulo.

O profissional, a quem não conheço pessoalmente, teria sido chamado no departamento de Recursos Humanos do clube e, sem qualquer declaração de dirigentes, demitido.

Não há duvida alguma acerca do direito do empregador demitir seus funcionários, mas penso que, salvo melhor juízo, essa demissão é reflexo da falta de planejamento, falta de um plano de trabalho, falta de um plano de negócios.

Noutras palavras: a Ponte Preta vive do improviso sob o comando do simpático Armando Abdalla, tanto que Jorginho – que pode fazer um bom trabalho – é o sétimo técnico da gestão atual.

O improviso trouxe também Felipe e Marcelinho Paulista, para quem desejo enorme sucesso. Mas qual será a métrica para avaliarmos a eficiência desses profissionais?

O futebol, aquele que desperta paixões, que movimenta multidões e que nos lança num espaço de sonhos onde lutamos batalhas heroicas e justas, convive com a racionalidade necessária da gestão empresarial.

Sem profissionalismo na gestão e sem planejamento o destino da Ponte Preta tende a ser o mesmo que o de outros tantos clubes tradicionais da nossa região e de nosso estado, não há mais espaço para o amadorismo.

Vamos a um exemplo simples. A venda do jovem Emerson para o Atlético Mineiro, nas condições em que ocorreu, é exemplo não apenas de incompetência, mas dos efeitos nefastos do improviso, da falta planejamento, falta de gestão profissional, tudo temperado com um amadorismo apaixonado e corrosivo.

O time de Belo Horizonte anunciou a venda de Emerson para o Barcelona por 50 milhões de reais; a Ponte Preta o vendeu por apenas R$ 5 milhões ao time mineiro (sendo que o empréstimo de Danilo Barcelos para a Macaca foi parte de pagamento, como noticiado à época), teria uma participação na venda do jogador para a Europa, mas ate isso está sob risco.

Posso concluir que nossos dirigentes impuseram um prejuízo potencial de 45 milhões de reais à Macaca?

Quantos jovens valores como Emerson foram envolvidos em negócios no “mercado da bola” nos últimos anos sem que a Ponte Preta colhesse os melhores frutos de seu investimento?

Posso concluir que o departamento de futebol, até pouco tempo coordenado pelo presidente, não é capaz de realizar negociações desse nível?

Lanço as perguntas ao leitor e volto ao tema do Planejamento necessário.

Planejamento empresarial, que é um processo de antecipar os objetivos e metas de uma empresa, é aplicável ao futebol. E esse processo contempla as estratégias que devem ser utilizadas para que eles sejam alcançados os objetivos.

Estratégias e objetivos não são insights, são fruto de debate democrático, de trabalho, de planejamento que envolve necessariamente todos os interessados: conselheiros, torcedores TC10, representantes das torcidas organizadas, parceiros comerciais, fornecedores, dentre outros. À diretoria cabe apenas cumprir o que for deliberado coletivamente.

Em linhas gerais, significa projetar o Planejamento, o futuro que se deseja definir o que é preciso para chegar lá e identificar o que se deve mudar para isso.

Isso falta à nossa Ponte Preta.

Por todas as suas características, o planejamento empresarial, aplicado ao futebol, é indispensável em qualquer negócio, não importa o seu porte, nem sua atividade, tampouco o seu tempo de fundação e ele [o planejamento] precisa estar sob execução e análise critica constante em todos os departamentos das empresas, no nosso caso do conselho deliberativo.

Afinal de contas o negócio futebol, como qualquer outro, só consegue sobreviver se cada departamento funcionar de forma integrada com os demais, só funciona com planejamento e gestão profissional, democrática e participativa.

Não entendo de futebol, sou apenas um torcedor apaixonado, mas tenho trinta e dois anos de vida profissional atendendo micro, pequenas e médias empresas e posso afirmar que fazer um planejamento completo e com regularidade é essencial para manter o crescimento de qualquer negócio e evitar perda de tempo, esforço e investimento.

Ao Professor João Paulo Sanchez, vitima da falta de planejamento, empenho minha solidariedade e meu compromisso de defender a profissionalização da gestão na Ponte Preta.

artigo escrito por Pedro Benedito Maciel Neto, advogado, sócio da MACIEL NETO ADVOCACIA, autor de “Reflexões sobre o estudo do direito”, ed. Komedi, 2007 – pedromaciel@macielneto.adv.br