Ponte Preta: “Um clube de 11 camisas”? Por Antônio Carlos Guedes Chaves

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*Antônio Carlos Guedes Chaves

A esmagadora maioria da apaixonada e fiel torcida da Ponte jamais poderá avaliar a humilhação que nós, os bem mais velhos, vivemos após a perda das instalações esportivas do clube, localizadas entre a avenida Júlio Mesquita e rua Pedro de Magalhães, motivada por dívida contraída com o então presidente, o renomado médico Penido Burnier.

Despojada e desalojada, a equipe passou a treinar em Campos de várzea e de colégios. Nossos rivais não perderam a oportunidade e nos pespegaram o rótulo “Clube de 11 Camisas”.

A humilhação só não foi maior que a reação de grandes pontepretanos que se cotizaram, compraram uma chácara na Proença e conclamaram os torcedores a construírem seu estádio.

Os mais humildes, sem condições financeiras, arregaçaram as mangas e, aos sábados e domingos, amalgamaram suor, cimento e areia erguendo o maior e mais moderno estádio do país.

Foi uma epopeia, um fato virgem na história do esporte brasileiro e, talvez, mundial.

Orgulhosos, juraram: “o Majestoso jamais se transformaria em moeda de transações”.

Decorridos 60 anos da sua inauguração, a maldição volta a nos rondar com a ameaça da venda do Majestoso por que – atentem para as justificativas – “ele não dispõe de estacionamento; há uma infiltração (sem nenhum laudo sério para atestar possível gravidade); as dimensões etc.

Sustentando o absurdo, o injustificável, a irresponsabilidade anuncia-se a construção de uma arena moderna nas instalações sociais do Jardim Eulina. Para viabilizar o feito o clube iria associar-se a uma grande construtora e obter financiamento de mais de R$ 100 milhões em banco oficial, sem esclarecer quais os recursos para amortizá-lo.

Concomitantemente, o senhor Sérgio Carnielli anuncia que a Ponte tem uma dívida de R$ 85 milhões, sendo que R$ 59 milhões com o próprio. Se considerarmos os 13 anos de seu mandato, representa um déficit mensal de aproximadamente R$ 550 mil.

Registra-se, lamentavelmente, que nesse período não houve uma conquista sequer. Houve ascensão, descenso e campanhas melancólicas e humilhantes que estão afugentando nossa fidelíssima e apaixonada torcida.

Diante do déficit, o presidente foi obrigado a negociar os jogadores que se destacaram, desfalcando o conjunto mesmo durante o desenrolar dos campeonatos, o que na distância, cada vez mais, de retorno à série A.

Sem alternativa de aumentar a receita, houve a contenção da despesa e o teto salarial dos atletas foi reduzido em 50% – de R$ 40 para R$ 20 mil.

Diante de tão grave situação qual seria a prioridade? Reformular os conceitos administrativos ou anunciar a construção de uma arena com a venda do Majestoso a conquista maior da nação pontepretana?

A anunciada pretensão é tão inconsequente, irreal e injustificável, mormente partido de um empresário vitorioso como o senhor Sérgio Carnielli, que se afigura como ameaça.

Se o absurdo se concretizar e iniciar-se pela venda do nosso estádio, qualquer pessoa de bom senso poderá conjecturar: a Ponte correrá o risco de voltar a ser alcunhada Clube de 11 Camisas, pelos mesmos motivos ocorridos no passado. Isto é, venda de estádio para que o presidente possa se ressarcir do que a Ponte lhe deve?

*Antônio Carlos Guedes Chaves é  Sócio benemérito desde 1980, conselheiro nato desde a criação da categoria, ora demissionário, ex-diretor e membro do conselho de supervisão.