Pontepretanos e bugrinos: torcedor alienado ou cidadão? De que lado você está? Decida e arque com as consequências!

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Existem temas delicados. Difíceis de abordar e de pleno entendimento. No futebol, pior ainda. O fanatismo, a irracionalidade, a ausência de compreensão do papel social, cultural e antropológico da modalidade atrapalha e muito na evolução do seu clube do coração.

Campinas tem esse drama. Nas décadas de 1970, 1980 e até uma parte de 1990, tanto Ponte Preta como Guarani exibiram resultados portentosos no gramado.

Hoje, um está distante do outro. O Alviverde convive com problemas financeiros e administrativos, disputa a Série B com dificuldades e precisa encontrar forças para sair da Série A-2 em 2018.

O calendário da Ponte Preta é muito melhor. Copa Sul-Americana, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Campeonato Paulista. Apresenta evolução da infraestrutura, paga os salários em dia e falta um requisito essencial: a conquista de um título.

Paulista de Jundiaí, Santo André, Bragantino, Ituano, Internacional de Limeira, bem ou mal já tem uma taça para comemorar e relembrar. Como a equipe amargou campineira perdas de títulos da Sul-Americana em 2013 e da Série B em 2014 a pressão subiu. O Guarani ficou em quadro delicado junto ao seu torcedor pela presença na terceirona por quatro anos consecutivos.

Tal panorama pelo menos serviu para detectarmos no geral dois grandes grupos de torcedores. Eles não sabem, mas travam uma disputa interna diária, tanto na arquibancada como nas redes sociais.

O primeiro grupo de torcedores tanto bugrinos como pontepretanos eu enquadro como cidadãos. Amam o seu time, comparecem aos jogos e contam com espirito crítico aguçado. Não ligam para alcunha de “cornetas” e cobram melhorias dos dirigentes e também do trabalho do treinador. Não engolem qualquer desculpa da direção do clube e utilizam o Conselho Deliberativo como espaço de cidadania para denunciar e cobrar.

Na prática, são aqueles que sustentam a existência dentro do jornalismo esportivo de uma postura crítica e independente em relação aos dirigentes. Apontam um exagero aqui e ali do cronista esportivo, mas entendem o papel da imprensa de fiscalizador do poder. Da necessidade de uma postura com a intenção de cobrar explicações e melhorias dos clubes. Acertos? Os puxa sacos já existem aos montes, eles pensam. Com razão.

Existe o segundo grupo que já intitulei de “República dos Puxa Sacos” em artigo anterior neste Só Dérbi. Mas não são apenas bajuladores por si só. São antes de tudo alienados e que renegam até a importância cultural e social de Ponte Preta e Guarani na formação da cidade de Campinas.

Os torcedores alienados não admitem críticas e querem viver em um mundo cor de rosa. Só de elogios. É a turma preferencial de qualquer dirigente. São passíveis de manipulação e servem como amortecedor em tempos de crise ou de má fase.

São os responsáveis por transmitir conceitos como a “coisa é assim mesmo”, “ano que vem tudo vai melhorar”, “vamos ver o lado positivo dos fatos”, etc. Apesar dos fatos não mostrarem nada de positivo. Elegem jornalistas críticos como inimigos de seus clubes e indiretamente colaboram para a ausência de transparência dos dirigentes.

Em resumo, foram estes que não permitiram uma pressão maior e que encurtasse a permanência da Ponte Preta na Série B por cinco temporadas (de 2007 a 2011) ou do Guarani na Série C (2013 a 2016). Inibem o verdadeiro sentido do jornalismo e incentivam a seara voltada ao puro entretenimento.

Vivemos um instante emblemático no futebol campineiro. É deste confronto e apuração do posterior vencedor entre estes dois grupos de opinião que determinará o futuro dos dois clubes.

Se os torcedores cidadãos prevalecerem as duas instituições sairão fortes e existirá chance concreta de construção de bons resultados em médio e longo prazo. Resultados ruins, por sua vez, não serão suficientes para abalar os conceitos já determinados. O Internacional de Porto Alegre tem muito a ensinar. Trilhou este caminho desde 1998 e apesar de encontrar na Série B colhe os frutos desta viés crítica e cidadã de seus torcedores.

Caso prevaleça o segundo grupo, a conquista momentânea de Ponte Preta ou Guarani não afastará o risco de inviabilidade institucional em longo prazo. A alienação e o rebaixamento do espirito crítico abre espaço para dinastias. E não existe nada pior do que a perpetuação no poder.

O duelo começou. De que lado você está? Pense e arque com as consequências.

(análise feita por Elias Aredes Junior)